A RAIANA E O BÚFALO
Vem montar o búfalo
que espera por ti junto da raia.
Ele levar-te-á às doidas terras de Espanha
onde comprarás um chapéu azul
e um casaco estampado de junquilhos brancos.
Lento, ele atravessará os morros barrentos,
perfumados de alecrim e rosmaninho.
E sobre o seu lombo, teus pés de princesa,
vestindo chinelos de seda carmesim,
roçarão as ervas do caminho
refrescadas pela brisa que cai
das asas das borboletas.
Vem ao encontro da besta
que te faz poemas patetas,
como todos os poemas, enfim.
Ele contar-te-á histórias
até que a noite chegue com o seu manto de galáxias
e rumor de novenas.
Vem, raiana, vem.
Não ouves? Já tocam os sinos da aldeia,
anunciando aos pássaros a vossa boda bestial.
E pela Rua do Forno, o senhor padre desliza
sobre os passos curtos que a batina permite
seguido de um bando de andorinhas que sabe cantar em latim.
Atrás dele, vindas dos campos em redor como bacantes,
mulheres rufam os seus adufes contra Castela.
E no fim da procissão um cão, irmão dos ciganos, ladra porque sim apenas.
Vem, raiana, vem
antes que seja tarde,
antes que o rio cresça, os junquilhos murchem,
as borboletas morram, as andorinhas migrem
e o cão dos ciganos faleça de esgana atrás da última oliveira da devesa.
O búfalo espera por ti.
E mesmo que não venhas,
diz-lhe que virás, raiana.
Ele precisa de ver a esperança
nos teus olhos verde-esmeralda
refletidos sobre a tua pele
cor de marfim e âmbar.
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