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domingo, 16 de setembro de 2018

[0121] Jorge Barbosa, no portal da moderna poesia cabo-verdiana


Nascido na cidade da Praia em 1902 e falecido na Cova da Piedade, Almada, em 1971, viveu largos anos na ilha do Sal. Jorge de Vera Cruz Barbosa foi um dos principais claridosos da literatura cabo-verdiana, com a publicação do seu livro “Arquipélago” em 1941 fixou-se um dos seus marcos: representou uma viragem para os “problemas da terra”. Poeta e contista, colaborou na revista Claridade de que foi um dos animadores com Baltazar Lopes da Silva, Manuel Lopes, João Lopes e outros. Recebeu o Prémio Camilo Pessanha, de 1956.


POEMA DO MAR

O drama do Mar,
O desassossego do mar,
sempre
sempre
dentro de nós!
O Mar!
cercando
prendendo as nossa Ilhas!
Deixando o esmalte do seu salitre nas faces dos pescadores,
Roncando nas areias das nossas praias,
Batendo a sua voz de encontro aos montes,
baloiçando os barquinhos de pau que vão por estas costas…
O Mar!
pondo rezas nos lábios,
deixando nos olhos dos que ficaram
a nostalgia resignada de países distantes
que chegam até nós nas estampas das ilustrações
nas fitas de cinema
e nesse ar de outros climas que trazem os passageiros
quando desembarcam para ver a pobreza da terra!
O Mar!
a esperança na carta de longe
que talvez não chegue mais!
O Mar!
Saudades dos velhos marinheiros contando histórias de tempos passados,
Histórias da baleia que uma vez virou canoa…
de bebedeiras, de rixas, de mulheres,
nos portos estrangeiros…
O Mar!
dentro de nós todos,
no canto da Morna,
no corpo das raparigas morenas,
nas coxas ágeis das pretas,
no desejo da viagem que fica em sonhos de muita gente!
Este convite de toda a hora
que o Mar nos faz para a evasão!
Este desespero de querer partir
e ter que ficar!