quinta-feira, 13 de setembro de 2018

[0098] Alexandre Dáskalos, a veemente poesia anticolonial


Nascido em Huambo (antiga Nova Lisboa) em 1924 e falecido no sanatório do Caramulo em Portugal em 1961, Alexandre Dáskalos é um poeta angolano que pugnou pela independência do seu país. 

Integrou a Casa dos Estudantes do Império quando em Lisboa cursou Medicina. 

Regressou a Angola em 1950.







A SOMBRA DAS GALERAS
Ah! Angola, Angola, os teus filhos escravos
nas galeras correram as rotas do Mundo.
Sangrentos os pés, por pedregosos trilhos
vinham do sertão, lá do sertão, lá bem do fundo
vergados ao peso das cargas enormes…
Chegavam às praias de areias argênteas
que se dão ao Sol ao abraço do mar…
… Que longa noite se perde na distância!

As cargas enormes
os corpos disformes.
Na praia, a febre, a sede, a morte, a ânsia
de ali descansar
Ah! As galeras! As galeras!
Espreitam o teu sono tão pesado
prostrado do torpor em que mal te arqueias.
Depois, apenas pestanejam as estrelas,
o suplício de arrastar dessas correias.

Escravo! Escravo!
O mar irado, a morte, a fome,
A vida… a terra… o lar… tudo distante.
De tão distante, tudo tão presente, presente
como na floresta à noite, ao longe, o brilho
duma fogueira acesa, ardendo no teu corpo
que de tão sentido, já não sente.

A América é bem teu filho
arrancado à força do teu ventre.

Depois outros destinos dos homens, outros rumos…
Angola vais na sede da conquista.
Hoje no entrechoque das civilizações antigas
essa figura primitiva se levanta
simples e altiva.
O seu cãntico vem de longe e canta
ausências tristes de gerações passadas e cativas.
E onde vão seus rumos? Onde vão seus passos?
Ah! Vem, vem numa força hercúlea
gritar para os espaços
como os dardos do Sol ao Sol da vida
no vigor que em ti próprio reverberas:

– Não sou cativo!
A minha alma é livre, é livre
enfim!
Liberto, liberto, vivo…

Mais… porque esperas?
Ah! Mata, mata no teu sangue
o pressâgio da sombra das galeras!

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