segunda-feira, 10 de setembro de 2018

[0073] Injustamente esquecido: Pedro Homem de Melo

Nascido no Porto em 1904 e falecido na mesma cidade, em 1984, Pedro da Cunha Pimentel Homem de Melo teve uma juventude pautada de ideais monárquicos e conservadores, foi advogado e professor, destacando-se como folclorista com grande sucesso em programa de televisão. Foi distinguido com o Prémio Antero de Quental (1940) e o Prémio Nacional de Poesia (1973).
Poeta injustamente esquecido, de linguagem simples e linear, foi autor de letras de canções que tiveram fama, como “Povo que Lavas no Rio”.

AMIZADE
Ser-se amigo é ser-se pai
( — Ou mais do que pai talvez...)
É pôr-se a boca onde cai
A nódoa que nos desfez.

É dar sem receber nada,
Consciente da prisão,
Onde os nossos passos vão
Em linha por nós traçada...

É saber que nos consome
A sede, e sentirmos bem
O Céu, por na Terra, alguém
Rir, cantar e não ter fome.

É aceitar a mentira
E achá-la formosa e humana
Só porque a gente respira
O ar de quem nos engana. 



REVELAÇÃO

Tinha quarenta e cinco… e eu, dezasseis…
Na minha fronte, indómitos anéis
Vinham da infância, saltitando ainda.

Contavam dela: — Já falou a Reis!
Tinha quarenta e cinco… e eu, dezasseis…
 Formosa? Não. Mais que formosa: linda.


Seu olhar diz: Seja o que o Amor quiser
A verdade planta que os meus dedos tomem!
 Pela última vez foste mulher…
E eu, pela vez primeira, fui um homem!

Sem comentários:

Enviar um comentário