domingo, 9 de setembro de 2018

[0068] Oswaldo Osório, o esplendor da poesia cabo-verdiana

Natural do Mindelo, ilha de S. Vicente, Osvaldo Alcântara Medina Custódio, mais conhecido por Oswaldo Osório, é um dos mais notáveis poetas, escritores e ensaístas cabo-verdianos.

Nascido em 1937, foi empregado de comércio e funcionário público, frequentou o seminário Nazareno e foi dirigente sindicalista.

Preso duas vezes pela PIDE, durante o regime colonialista, perdeu a visão em 2004, mas continuou a escrever (ditando para a sua inseparável companheira). Publicou "Caboverdeamadamente construção meu amor" (poesia), pub. Nova Aurora, Lisboa, 1975, a "Sexagésima Curvatura" (poesia) e "As Ilhas do Meio do Mundo" (romance).

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O AMOR NA CURVATURA DO SÉC. XX

não havia impedimentos para nós
não havia segredos para nós no teu corpo
nem no nosso segredo para ti mulher
pérola desejada e colhida
na turbulência da vida

nos jardins sob as árvores
nos becos em quartinhos escuros e humildes de ruelas pobres
nas praias nos recôncavos
tudo era sítio onde se amava

se moléstias nos corrompiam o sangue
(ossos do vício e da promiscuidade)
o mágico hipopene  e a santa dibeclina nos curavam
já não é assim o amor
livre e capeador
sem medo e sem açaimo

o amor não é como dantes
oh hoje não o faças fulo
fá-lo manso fá-lo crítico

o amor é agora uma críptica carnívora e fatal
e aterra a terra inteira
        vasta
            impiedosa
                horrível

como o hades e os seus suplícios

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