Natália de Oliveira Correia nasceu nos Açores (Fajã de Baixo ilha de S. Miguel) em 1923 e faleceu em Lisboa em 1933. Extrovertida, foi deputada à Assembleia Nacional da República portuguesa e um dos fundadores da Frente Nacional para a Defesa da Cultura. Directora da revista “Vida Mundial”, foi autora da letra do Hino dos Açores. Em sua casa, altamente vigiada pela polícia política salazarista, reuniu-se uma vibrante tertúlia, transferida a partir de 1971 para o seu bar, Botequim. Poeta, escritora e ensaísta, assumiu a sua qualidade de mulher como “arquétipo da liberdade erótica e passional”. Destacou-se na oposição democrática ao Estado Novo e foi condenada a pena suspensa pelo regime fascista. Grande Prémio da Poesia da AEP e 1991.
POEMA INVOLUNTÁRIO
Decididamente a palavra
quer entrar no poema e dispõe
com caligráfica raiva
do que o poeta no poema põe.
Entretanto o poema subsiste
informal em teus olhos talvez
mas perdido se em precisa palavra
significas o que vês.
Virtualmente teus cabelos sabem
se espalhando avencas no travesseiro
que se eu digo prodigiosos cabelos
as insólitas flores que se abrem
não têm sua cor nem seu cheiro.
Finalmente vejo-te e sei que o mar
o pinheiro a nuvem valem a pena
e é assim que sem poetizar
se faz a si mesmo o poema.
PAZ
Irreprimível natureza
exacta medida do sem-fim
não atinjas outras distâncias
que existem dentro de mim.
Que os meus outros rostos não sejam
o instável pretexto da minha essência.
Possam meus rios confluir
para o mar duma só consciência.
Quero que suba à minha fronte
a serenidade desta condição:
harmonia exterior à estátua
que sabe que não tem coração.
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