sábado, 8 de setembro de 2018

[0062 Tomás Vieira da Cruz e a erupção da poesia angolana

Tomás Vieira da Cruz nasceu em Constância (Portugal) em 1900, mas aos 25 anos partiu para Angola onde viveu largos anos e dirigiu o jornal “Mocidade”. 

Faleceu em Lisboa em 1960. 

Jornalista, músico e poeta caracterizado por “um certo fatalismo denunciador das injustiças”, é considerado um dos pioneiros das letras angolanas.


FRUTA
Quitanda de fruta verde,
dá-me um gomo de laranja
para matar a sede.
Ou, então, será melhor
dar-me um veneno qualquer
porque eu ando perturbado
e o meu sonho anda queimado
por uns olhos de mulher!
- Minha senhora, laranja,
limão, fresquinho, caju,
ananás ou abacate!...
E a quitandeira passou,
saudável, viva, graciosa,
com uma flor desfolhada
no seu sorriso escarlate.
E no ar um som de música ficou
e um perfume de fruta
que não matou minha sede
Oh agridoce quitanda
da fruta verde!...


SURUCUCU

Fui mordido sem remédio,
quem me mordeu foste tu...
E agora morro de tédio,
veneno surucucu.
Foi numa triste cubata,
mais longe do que a distância,
mais longe do que a saudade,
que é tempo morto que mata.
Nunca mais posso esquecer
a tua boca sem fala,
quando um leão, que era rei,
assustava e complicava<br
Uma palmeira,
à luz da Lua, parecia que rezava
naquele mundo profano!...
Fui mordido... - Foste tu! -
Nunca mais posso esquecer-te,
- veneno surucucu.

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