sábado, 8 de setembro de 2018

[0063] Maria Azenha, uma poesia intimista


Natural de Coimbra, onde nasceu em 1945, é professora e poeta distinguida em Portugal e no Brasil com diferentes prémios. Com uma escrita intimista, vem-se destacando na divulgação da poesia.


HOMENAGEM A TI, OH RÁ!

(para ser rezado ao Sol Nascente de braços abertos)

Num ponto estás,
oh Rá,
em teu trono flamejante.
Tua majestade
põe fim às honras da Noite
e nasces acima de Nu.
Brilhas com os teus raios
sobre
a fronte de Ankh.
E entre as estrelas do Céu
teu cálice assenta
sobre a cabeça de Tet.
Sequet-Hetepet
Sequet-Hetepet
Homenagem a Ti,
 Homenagem a Ti,
oh Rá.
acima de todos os Planos!


falam dentro de mim as aves

falam dentro de mim as aves
o voo de mim no interior dos meus sonhos
habitados por crianças. muros. frágeis sílabas de orvalho
tenho caminhado muito, pai. do lado de dentro das ruas
o regresso é haver ontem. casas. tectos.
lâmpadas acesas no interior dos lençóis.
escavo a noite com pérolas para olhar a treva das águas.

há o que escrevo nas paredes do vento
com a seiva das árvores
vejo toda a eternidade embaciada nos vidros
fechados
das janelas dos teus olhos  que dão para o rio
ninguém sabe onde corre o livro do vapor dos barcos. nem eu própria.
perdi-me
nas asas do escuro do lume. na viagem.

de haver pássaros espreitando as páginas
que as minhas folhas caídas respiram

lá longe. pai. os dias separam-se com poemas acesos na lua

ardo. ao canto do quarto
na mansidão do vazio.

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