Nascido na antiga Lourenço Marques em 1909 e aí falecido em 1943, António de Rui Noronha foi, tal como Noémia de Sousa e Rui Nogar (já referidos neste portal), um percursor da moderna poesia moçambicana. Mestiço, filho de pai indiano, foi igualmente jornalista, usando o pseudónimo de Xis Kapa e de Carranquinha de Aguilar, distinguindo-se pela sua defesa da causa africana contra a dominação colonial e a discriminação racial. A sua obra poética está compilada em “Os Meus Versos”, editado em 2006. Duas vertentes fundamentais inscrevem-se na poesia moçambicana: uma, essencialmente de expressão colonial, mesmo que aberta a uma certa descolonização, e a outra herdeira de uma afirmação cultural africana em cujo alvorecer se destacam os nomes de Noémia de Sousa, Rui Nogar e José Craveirinha. Rui Noronha, com a sua poesia intimista e o seu recorte clássico, como que representa a ponte entre uma e outra, mas já de rotura com a tradição europeizante..
Dormes! e o mundo marcha, ó pátria do mistério
Dormes! e o mundo avança, o tempo vai seguindo
O universo caminha ao alto de um hemisfério
E no outro tu dormes o sono teu infindo.
A selva faz de ti sinistro eremitério
Onde, sozinha, à noite, a fera anda rugindo
A terra e a escuridão têm aqui o seu império
E tu, ao tempo alheia, ó África, dormindo.
Desperta. Já no alto adejam negros corvos
Ansiosos de cair e beber aos sorvos
Teu sangue ainda quente, em carne de sonâmbula
Desperta. O teu dormir já foi mais do que terreno
Ouve a voz do Progresso, este outro Nazareno
Que a mão te estende e diz - “África, surge et ambula!”
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