Poeta costa-riquenho, Álvaro Mata Guillé é também
director de teatro, actor, promotor cultural e cineasta.
Vive no México e, sem
dúvida, é uma voz significante da poesia da América Central que “ibn Mucana”
traduz um dos seus poemas com os devidos cuidados para não trair o original.
As
suas palavras transformam a realidade e constroem um universo insólito.
SEM TÍTULO
As borboletas
apareciam com as sombras
como as cintilações entre as nuvens que abaixavam
como espectros. Quisemos ir com elas,
mas um relâmpago,
que iluminava as afirmações da lua,
o ulular dos moxos e o arrastar das correntes
nos deteve. Não tinha aonde ir,
nem corria o sol, nem a água
nem sequer nos marca a névoa. Sentámo-nos
debaixo da copa das árvores
a esperar,
decifrando os ossos dos livros,
as suas vozes. Os olhos
molhados pela baba
perturbavam o sonho e a sombra,
as mãos aferradas aos aguilhões,
as enseadas negras e as olheiras,
os dentes cravados nas covas, afirmava Jorge,
dizendo que os nossos desagrados vinham de longe,
de um tempo sem tempo,
de outra parte,
do monólogo de Arvo no espelho,
do iluminar dos sótãos,
no deserto,
nos seixos,
ma outra costa,
de um lugar sem lugar.
Foi então
que não se lobrigava sem olhar
nem o vento
nem o medo,
só a indiferença. Foi
antes de chegar aos declives sombreados
onde as folhas se acantonavam
e as borboletas.
Sem comentários:
Enviar um comentário