terça-feira, 4 de setembro de 2018

[0045] Tere Tavares, o esplendor da poesia brasileira

Tere Tavares, escritora e artista plástica, radicada em Cascavel, no Pará, Brasil, é autora de sete livros publicados: "Flor Essência" (2004), "Meus Outros" (2007), "Entre as Águas" (2011), "A linguagem dos Pássaros" (Editora Patuá, 2014), "Vozes & Recortes" (Editora Penalux, 2015), "A licitude dos olhos" (Editora Penalux, 2016) e "Na ternura das horas" (Editora Assoeste, 2017). 

Conta com diversas publicações em antologias no Brasil e exterior. Integra a Academia Cascavelense de Letras e edita o blog a seguir indicado (clicar no link, para ver).

m-eusoutros


SABEMOS DO QUE NOS DEPURA OS DIAS

Sabemos do que nos depura os dias e por vezes fica dormente
até que um peso mínimo nos faça acordar
 novamente. Há embustes na terrível excelência do partir
sem chegada a desorientar o que não teve lugar.
Como um epitáfio não grafado na rocha perpétua.
De tanto auscultar a fundura resta-nos o farol o anel imóvel
 circundando a janela de ouro que desce pelos rios
e pelas nossas vestimentas ornadas de peixes e canoas de cedro.
Tudo o que muda é obscuro e balbuciante,
numa linguagem melódica
que alguém sopra metodicamente
irradiando-se na possibilidade de retorno
e ser argila furtiva e alva e pluvial.
Ainda que estivéssemos nas ausências repetíveis e pétreas.


TENHO BELEZA COMO TENHO HORRORES

Tenho beleza como tenho horrores.
Sou a gravura dos labirintos errantes.
Pintou os cabelos sem dar-se conta que descoloria a alma.
As mãos sem luvas asfixiadas num delírio inalterável
consumindo-se até sobrar-lhe somente as unhas.
Ocupou-se de sortes inacreditáveis aspergidas de um modo imprevisto
sobre as paredes e tetos. Depois confiou ao coração a escolha de cada textura
que revestiria suspeitas e incredulidades mascadas
e digeridas num muito obrigada para finalizar.


UMA PESSOA APARENTEMENTE FELIZ

Uma pessoa aparentemente feliz.
Talvez lhe faltasse autoestima algum amor.
O sorriso em desalinho. Os maltratados dentes.
Soube-a imediatamente ao conhecê-la da sua solidão agravada
pela dedicação à casa decadente e adoecida antiga
como a sua disposição para buscar
uma saída mais honrosa e vivificante.
Desilusões ao longo da vida não deveriam servir aos desânimos
ou aos desestímulos. As unhas por fazer as raízes brancas nos cabelos.
A maquiagem avessa. A tez seca. Queixas esquecidas.
Roupas sem uso. Puídas.  Abandono de egos e vaidades.
As agulhas ímpares e branquíssimas como se entremeadas por fios de caramelo. A cabeça nas nuvens só para destoar dos amanheceres e crepúsculos
mais ardentes. As choupanas que visitara numa juventude passada.
Machucada de lua. Não aprendera sobre as perdas.
Que só os que sabem do desapego
conservam a dignidade e resistem.

3 comentários:

  1. Surgiu aqui um simpático comentário relativo à poesia da TT que, como estava associado ao "Google +", nos causava problemas técnicos e por isso tivemos de o eliminar. Pedimos ao amigo que fez esse comentário que o repita, mas no sistema normal, tal como este foi feito. Pedimos desculpa pelo incómodo e cá ficamos a aguardar de novo a sua desejável presença.

    Grande abraço de Portugal,
    Ibn Mucana

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  2. Minha gratidão pela publicação de meus poemas aqui caro amigo Nuno Rebocho. Sinto-me honrada.

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    Respostas
    1. A boa poesia do outro lado do Atlântico será sempre bem-vinda, particularmente a do país irmão.

      Um grande abraço, Tare.
      Nuno Rebocho

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