terça-feira, 4 de setembro de 2018

[0046] São Tomé e Príncipe: Costa Alegre, um percursor

Com Caetano da Costa Alegre, “ibn Mucana” complementa hoje o mostruário do advento da poesia santomense actual no qual se agigantam os nomes de Francisco José Tenreiro, Alda do Espírito Santo e Manuela Maria Margarido, todos já apresentados neste portal. 

Costa Alegra nasceu en 1864 e morreu em Lisboa em 1890, ainda bastante novo (apenas 25 anos), devido à tuberculose. Crioulo de origem cabo-verdiana, durante oito anos viveu em Portugal, e aí começou a poetar com relativo êxito. Verdadeiramente, foi um percursor dos poetas africanos lusófonos posteriores. 

É uma poesia marcada pela impressionante beleza das ilhas, pelo irromper das ideias independentistas e pela afirmação da negritude que começava a irromper em África e na América.

VISÃO

Vi-te passar, longe de mim, distante.
Como uma estátua de ébano ambulante.
Ias d luto, doce toutinegra
E o teu aspecto pesaroso e triste
Prendeu minha alma, sedutora negra.
Depois, cativa de invisível laço
(O teu encanto, a que ninguém resista)
Foi-te seguindo o pequenino passo
Até que o vulto gracioso e lindo
Desapareceu longe de mim distante.
Como uma estatura de ébono no ambulante.


O MENINO

A preta lavadeira já é mãe
e a sua primeira preocupação
foi mostrar o seu menino preto
ao patrão
e à senhora do patrão...

O seu homem veio também.

Ela vestiu panos estampados, novos, era mãe,
Ele trazia o menino ao colo, aconchegado.

Vinham contentes, ela gesticulando.

Por fim chegaram.
E discutiram entre os dois qual o primeiro a falar.

E sorriram para o seu menino preto.
Abriu a porta  a senhora do patrão.
E os dois apenas disseram:
O menino!

Estava feita a apresentação.

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