José João Craveirinha, nasceu na antiga Lourenço Marques em 1922, filho de pai algarvio e mãe ronga, e faleceu em Joanesburgo, em 2003. Voz fundamental da poesia moçambicana, foi Prémio Camões em 1991. Ex-jornalista, esteve quatro anos preso pelo colonialismo português, de 1965 a 1969. Usou diversos pseudónimos -: Mário Vieira, J.C., J. Cravo, José Cravo, Jesuíno Cravo e Abílio Cossa. Foi presidente da Associação Africana e primeiro presidente da Mesa da Assembleia Geral da Associação dos Escritores Moçambicanos, entre 1982 e 1987. Recordamo-lo com três poemas:
OUTRA BELEZA
Uns exibem insólitos perfis
de outra beleza
maquilhada
no mato
ou
do invés
ou de frente
perfeitos modelos de caveira
desfilam sem nariz
GRITO NEGRO
Eu sou carvão!
E tu arrancas-me brutalmente do chão
e fazes-me tua mina, patrão.
Eu sou carvão
e tenho que arder sim;
queimar tudo co a força da minha combustão.
Eu sou carvão;
tenho que arder na exploração
arder até às cinzas da maldição
arder vivo como alcatrão, meu irmão,
até não ser mais a tua mina, patrão.
Eu sou carvão.
Tenho que arder
queimar tudo com o fogo da minha combustão.
Sim!
Eu sou o teu carvão, patrão
AFORISMO
Havia uma formiga
compartilhando comigo o isolamento
e comendo juntos.
Estávamos iguais
com duas diferenças:
Não era interrogada
e por descuido podiam pisá-la.
Mas os dois intencionalmente
podia pôr-nos de rasto
mas não podiam
ajoelhar-nos.
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