domingo, 28 de março de 2021

[0730] Juergen Heinrich Maar oferece-nos um poema do seu livro "Poemas domésticos" - ed. Papa-Livro Florianópolis, Brasil, 2000


Vejo-te novamente na claridade de estio

Tão suavemente, tão novamente na idade

Do primeiro beijo que te vejo continuadamente

Na atordoada mente do primeiro amado,

Na toada ausente do amor calado

Hoje renovado, que consente, enquanto sente,

O ardor da flor, o amor presente

No primeiro beijo.

Materializo-te entre véus e veludo

Enquanto visualizo entre os céus o tudo

Que já me ofertaste quando despertaste

Na alma do amante mudo

Os horizontes abertos, certos sobretudo

Até hoje, quando o jovem regeneraste

Que te cingiu no primeiro abraço,

Que repousou a dor no teu regaço

Durante o primeiro abraço.

Reencontro-te à janela, ora mais bela

Que a figura singela que vela

Desde dias incontáveis meus sonhos de rei.

Que vela insondáveis, tristonhos, eu sei,

Todos os momentos, que aparte os tormentos

Que acompanham o afastamento;

Do reencontro renasce, tão mais bela

Porque mais perene a iluminura

Que segura perpetua entre minha mão e a tua

O doce êxtase do primeiro encontro.

O êxtase festivo da alegria pura

Do primeiro encontro.



7 comentários:

  1. Que maravilha de poema. Só um sábio-poeta poderia escrever algo com essa profundidade e com clareza de sentimentos .

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    1. Caro desconhecido,

      Agradecemos a simpatia do comentário, mas pedimos-lhe que para a próxima vez se identifique.

      Um abraço,
      JS

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  2. Belo poema que convoca o amor sempre distante mesmo quando está próximo. Alguns versos fizeram-me lembrar a lírica camoniana: "que consente, enquanto sente/
    O ardor da flor, o amor presente"

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  3. Depois de ler este poema, escrevi:

    Às vezes,
    num certo instante,
    num verso perdido,
    num poema esquecido
    no bolso das calças
    ou naquela memória errante
    que encontramos outra vez
    numa rua da infância,
    vem até mim a presença do amor distante.

    Meto a mão no queixo
    e penso depois o quanto há nesta ideia de redundante,
    porque o amor e a distância são causa e efeito,
    e haverá uma ordem e haverá um proveito.

    Mas que importância terá a ciência disto,
    quando lemos os versos que fez Luiz Vaz a Dona Violante?

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    1. Caro Luís:
      Agradeço por suas palavras. Nunca imaginaria eu que meus versos pudessem inspirar outros versos, o que me deixa emocionado. Ainda mais quando percebo que consegui traduzir em palavras sentimentos vindos do âmago da alma.
      Juergen H. Maar

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  4. Como os poemas nunca estão acabados: http://arvorecomvoz.blogspot.com/2021/03/amor-distante.html

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  5. Excelente troca de palavras e de poemas - que também são coisas de palavras.

    Grande abraço para ambos,
    JS

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