quarta-feira, 17 de julho de 2019

[0678] Genito Yokoluvango, a poesia dos anos de brasa


De seu nome André Eugénio Gervásio das Saudades, nasceu em 1956 em Sá da Bandeira, actual cidade do Lubango. Ingressou no quadro diplomático e exerceu funções diplomáticas nas Repúblicas de São Tomé, Côte d’Ivoire e China.


KOHALÊ 


Sou do tempo,
do parto da Assembleia do Povo
do ventre do Cine Restaurador

Sou do tempo,
pensador despensado
irritando Mwanapôs
em cuecas
na  rotunda do Aeroporto

Sou do tempo,
fino reco-reco
bué peixe-espada
ferra do no arroz d’água com sal,
montanha

Sou do tempo,
arrancador tremia as lâmpadas
todos dançavam
no dancing do Valito.
Cassete Maxwell
botão? gira na lapiseira!

Sou do tempo,
Camarada, Fantoche
também Lacaios do Imperialismo

Sou do tempo,
guerra-gelada
M’bumbu contra preto
Negro contra black
por trás,
gargalhadas White!

Sou do tempo,
milionário tinha cem dólares,
sentava no Tribunal
Revolucionário

Sou do tempo,
Kwanza Novo
ficava velho
no BFA do garrafão

Sou do tempo,
Percy Sledge
morava na Águia d’Ouro
machimbombo tinha paragem
do fiscal com relógio

Sou do tempo,
Camões de doji-quinhentos
engravidava mãe
da Latona
sem apelido,
só nome de santa

Sou do tempo,
no Parlamento
Al Capone Yetu  Kazumbí
dois incisivos de elefante
no kafôcolo,
saiu.
Todos, ninguém viu!

Sou do tempo,
Tabuada ficava na cabeça
álcool ficava na garrafa,
agora !?

Sou do tempo,
Amor de sentimento
não se fazia
hoje, até dá azia.

Sou do tempo,
cortejo funeral
todo defunto era General.

Sou do tempo,
Provérbio 22.1

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