António José Branquinho da Fonseca, que também usou o pseudónimo de António Madeira, nasceu em Mortágua em 1905 e faleceu em Cascais em 1974. Escritor e poeta presencista, foi um dos fundadores das revistas “Tríptico”, “Presença” (de que foi director) e “Sinal”
LAGO
Com duas tábuas fiz
o barco onde navego
e onde sou tão feliz
que nunca chego...
Vou sonhando e cantando,
tão alto, que não sei se o mar e o céu vão bons
ou se vão mal...
Só quero ir sempre andando
e reparando
nas diferenças
da paisagem sempre igual...
SONHO DA ROSA
Se me recordas entristeço e faço
porque o teu vulto sensual me esqueça
e o teu olhar, a tua boca, e essa
graça de graça que tu pões no passo.
Sonho-fumo esgarçando-se no espaço-
nas mãos em concha amparo-te a cabeça,
e sem que a minha boca desfaleça
beijo-te a boca e cinge-te o meu braço.
Já, no jardim deserto da tristeza,
vens aos meus olhos como a luz acesa
que uma penumbra dolorida apaga...
Vai-se extinguindo o meu desejo... Olha:
tu foste a rosa que ao abrir se esfolha,
nuvem perdida que no céu divaga...
NAUFRÁGIO
A rua cheia de lua
Lembrava uma noiva morta
Deitada no chão, à porta
De quem a não soube amar.
Já não passava ninguém…
Era um mundo abandonado…
E à janela, eu, tão Além
Subia ressuscitado…
Vi-me o corpo morto, em cruz
Debruçado lá no Fundo…
E a alma como uma luz
Dispersa em volta do mundo…
Mas à tona do mar morto
Um resto de caravela
Subia… E chegava ao porto
Com a aragem da janela.
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