quarta-feira, 21 de novembro de 2018

[0432 João Travanca-Rego, uma voz marginal

João Orlando Travanca-Rego nasceu em Vila Boim em 1940 e faleceu em Elvas em 2003.

Poeta, codirigiu a revista da Associação Sol XXI.



SIDERAÇÃO

Há uma aguda faca de cansaço
contra o meu lado esquerdo, coração e cérebro:
“Serão as pegadas de mais tempo?
“Será o universo tresmalhado?
(Será um assassinato a quem se ama).

Regresso a uma casa e arde o tempo:
Aqui habito. Aqui transpiro. Aqui desapareço.
- E é de voltas a sítios num espaço
que os astros uns aos outros se consultam.

Na Terra nasço, e na terra eu durmo
Na Terra ocupo o espaço e a fala canta
- Despi os Astros
e reúno dúvidas...

A vida é como eu digo – acaba cedo;
E o sentido de sê-lo nem um credo,
extraído às raízes da Ciência,
vem revelar às portas da razão
um anjo transportado sobre os séculos...


UM LUGAR: TRÊS MOMENTOS

Aqui eu estive. A vida irrepetível…
Mesmo que eu volte, o tempo será outro!
- Não tenho abraço para unir dois ventos
para além da memória em que os retive


RAZÃO SAGRADA

“Terão de ter sido,
uma razão mais nítida
aqueles que –
cumprindo o humano ciclo –
não tenham bebido (horror da História)
as facas de seu Gólgota?”

São perguntas que faço e que me guardo
para quando as palavras sufocarem:
- Sei por memória, quantas vezes
nenhuma razão achei para teatro
de vazias personagens que podemos ser
brandindo o g(l)á(u)dio de buscar razões:
Nem o Abstracto do mundo, nem, de um homem,
o seu concreto animado coração
emite(m) resposta que satisfaça, esfacelando-os
com a lança da água de um poema quando
a razão-humana foi sa(n)grando absurda

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