Diogo Virgílio de Lemos nasceu na ilha de Ibo em 1929 e faleceu em Paris (França) 2013. Jornalista, escritor e poeta, foi um dos fundadores da revista “Msaho” em 1952, assumindo a rotura com a literatura colonial portuguesa, defendendo as ideias independentistas “avant la lettre”, esteve preso pela PIDE em 1961, teve que exilar-se em França (1963). Usou também os pseudónimos de Lee-li Yang, Bruno dos Reis e Duarte Galvão. Alvo de um processo judicial em 1954 por alegados insultos à bandeira portuguesa (tratada por “capulana”)
VIAGEM PELA RUA DOS CASINOS
ao Fernando Ferreira / ao Reinaldo F.
A velha rua dos casinos ri-se
velha cigana, tempo
que vai a rua para dar
um ar da sua graça:
na noite, guerras de sedução,
passeiam-se velhas e jovens
putas, marinheiros, músicos,
mangas de alpaca.
Corpos que se exibem, sexos
que ejaculam,
do solitário deserto
ao imprevisível
vulcão
DO MAR O INCRIADO NASCE
A ilha existe não porque a achasse
mas porque a nomeias coração ao vento
capaz deste segredo vontade grega
de amar o que a alma intui e cria.
E de tal modo ela seria e é desejo
que tudo esqueço para vê-la nua
devir do sentido no seu sentido vago
louco amor agreste que a utopia apela.
Na ausência de limites para o que sonhas
vacilante avanço ágil mas sem asas
sem medida luz do fragmentado verbo.
Rio e choro sendo a máscara e o rosto
nomeado língua capaz do que não sei
suspenso o tempo do mar o incriado nasce.
A ILHA E O SEGREDO
Visão
colada à bruma
no infinito ponto
do rosto do eterno
a transparência Persa negro e brando
cabaias e cofiós
de seda e linho
em pontilhado, aurora
minha utopia que sangra
Nos mármores róseos
da fortaleza
tua consciência, livre
recria o nada
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