quinta-feira, 4 de outubro de 2018

[0242] Maria Teresa Horta, o feminismo na poesia


Maria Teresa de Mascarenhas Horta Barros nasceu em Lisboa em 1937.  É jornalista, escritora e poeta e foi Prémio Máxima da Literatura em 2010, Prémio D. Dinis em 2011 e Prémio Autores em 2017. Descendente da alta aristocracia portuguesa, dedicou-se ao cine-clubismo e integrou o Movimento Feminista de Portugal. Fez parte do Grupo Poesia 61. 


MÃE

mãe
terminou o tempo
de sorrir
desculpa-me a morte
das plantas

tatuei a tua antiga
imagem loura
em todos os pulsos
que anjos inclinam de existires

perdi-me noite na planície
branca
sobrevivente das madrugadas
da memória

trocaram-me os dias
e as ruas de ancas
verticais
e nas minhas mãos incompletas
trouxe-te um naufrágio
de flores cansadas
e o único jardim de amor
que cultivei de navios ancorados ao espaço


MORRER DE AMOR

Morrer de amor
ao pé da tua boca

Desfalecer
à pele
do sorriso

Sufocar
de prazer
com o teu corpo

Trocar tudo por ti
se for preciso


OS TEUS OLHOS

Direi verde
do verde dos teus olhos

de um rugoso mais verde
e mais sedento

Daquele não só íntimo
ou só verde

daquele mais macio    mais ave
ou vento

Direi vácuo
          volume
direi vidro

Direi dos olhos verdes
os teus olhos
e do verde dos teus olhos direi vício

Voragem mais veloz
mais verde
            ou vinco
voragem mais crispada
ou precipício

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