Casimiro Cavaco Correia e Brito nasceu em Loulé em 1938. Poeta e divulgador de poesia, ficcionista e ensaísta, recebeu o Prémio de Poesia da APE de 1981, o Prémio Versília de 1985, o Prémio do PEN Clube Português em 1997, o Prémio Internacional de Poesia Léopold Senghor de 2002, o Prémio de Poesia Aleramo-Luzi de 2004 e o Prémio do Festival Poeteka, na Albânia, de 2008. Fundou e dirigiu com António Ramos Rosa os “Cadernos do Meio-Dia” e teve papal fundamental no lançamento do movimento Poesia 61. Emigrou para a Alemanha e 1960 e regressou a Portugal em 1971. Foi presidente do PEN Clube Português.
DO AMOR E DA MORTE
Temos lábios tenros para o amor
dentes afiados para a morte
Concebemos filhos para o amor
para a guerra os mandamos para a morte
Levantamos casas para o amor
cidades bombardeamos para a morte
Plantamos a seara para o amor
racionamos o trigo para a morte
Florimos atalhos para o amor
rasgamos fronteiras para a morte
Escrevemos poemas para o amor
lavramos escrituras para a morte
O amor e a morte
somos
NOITE POR TI DESPIDA
Adulta é a noite onde cresce
o teu corpo azul. A claridade
que se dá em troca dos meus ombros
cansados. Reflexos
coloridos. Amei
o amor. Amei-te meu amor sobre ervas
orvalhadas. Não eras tu porém
o fim dessa estrada
sem fim. Canto apenas (enquanto os álamos
amadurecem) a transparência, o caminho. A noite
por ti despida. Lume e perfume
do sol. Íntimo rumor do mundo.
PEÇO A PAZ
Peço a paz
e o silêncio
A paz dos frutos
e a música
de suas sementes
abertas ao vento
Peço a paz
e meus pulsos traçam na chuva
um rosto e um pão
Peço a paz
silenciosamente
a paz a madrugada em cada ovo aberto
aos passos leves da morte
A paz peço
a paz apenas
o repouso da luta no barro das mãos
uma língua sensível ao sabor do vinho
a paz clara
a paz quotidiana
dos actos que nos cobrem
de lama e sol
Peço a paz e o
silêncio
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