sexta-feira, 28 de setembro de 2018

[0218] Casimiro de Brito

Casimiro Cavaco Correia e Brito nasceu em Loulé em 1938. Poeta e divulgador de poesia, ficcionista e ensaísta, recebeu o Prémio de Poesia da APE de 1981, o Prémio Versília de 1985, o Prémio do PEN Clube Português em 1997, o Prémio Internacional de Poesia Léopold Senghor de 2002, o Prémio de Poesia Aleramo-Luzi de 2004 e o Prémio do Festival Poeteka, na Albânia, de 2008. Fundou e dirigiu com António Ramos Rosa os “Cadernos do Meio-Dia” e teve papal fundamental no lançamento do movimento Poesia 61. Emigrou para a Alemanha e 1960 e regressou a Portugal em 1971. Foi presidente do PEN Clube Português.


DO AMOR E DA MORTE

Temos lábios tenros para o amor
dentes afiados para a morte

Concebemos filhos para o amor
para a guerra os mandamos para a morte

Levantamos casas para o amor
cidades bombardeamos para a morte

Plantamos a seara para o amor
racionamos o trigo para a morte

Florimos atalhos para o amor
rasgamos fronteiras para a morte

Escrevemos poemas para o amor
lavramos escrituras para a morte

O amor e a morte
somos


NOITE POR TI DESPIDA

Adulta é a noite onde cresce
o teu corpo azul. A claridade
que se dá em troca dos meus ombros
cansados. Reflexos
                                  coloridos. Amei
o amor. Amei-te meu amor sobre ervas
orvalhadas. Não eras tu porém
o fim dessa estrada
sem fim. Canto apenas (enquanto os álamos
amadurecem) a transparência, o caminho. A noite
por ti despida. Lume e perfume
do sol. Íntimo rumor do mundo.


PEÇO A PAZ

Peço a paz
e o silêncio

A paz dos frutos
e a música
de suas sementes
abertas ao vento

Peço a paz
e meus pulsos traçam na chuva
um rosto e um pão

Peço a paz
silenciosamente
a paz a madrugada em cada ovo aberto
aos passos leves da morte

A paz peço
a paz apenas
o repouso da luta no barro das mãos
uma língua sensível ao sabor do vinho
a paz clara
a paz quotidiana
dos actos que nos cobrem
de lama e sol

Peço a paz e o
silêncio

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