Nascido em S. Vicente, Cabo Verde, em 1953 e emigrado na Holanda com 17 anos, trabalhou na marinha mercante holandesa e quatro anos depois fixou-se em Basileia, na Suíça, onde trabalhou até regressar a Cabo-Verde, em 1985. Pintor e poeta, é um dos nomes da nova poesia cabo-verdiana, com expressão muito pessoal.
TALVEZ
Na cidade entre o caos
E o ruído das sirenes
Entre paredes de habitações
Vozes alegres, outras
Em pranto...
Nocturno urbano ruidoso
Tubos de escape
Em curvas e contra curvas
Ferem pulmões de fino tecido
Apunhalando a fria neblina
Nas esquinas e avenidas, escuto
O tráfico caótico das viaturas
Dragão vindo do invisível é
Anidrido carbônico murchando
Flores nos parques da solidão,
Um letreiro intermitente,
Entre o vermelho e o branco
Anuncia aventuras e sonhos.
Cansado, vou à janela
Fechando o duplo caixilho
Num silêncio ferido apenas
Pelo ruído fino da geladeira
Flutuo...
Com melancolia agarro um atlas
Desfolho lentamente o mundo, viajo
Para países Ilhas e rios desconhecidos
Com o indicador aponto cidades,
Em lugares distantes
Em algumas recuso entrar,
São elas de guerras e ruínas,
Não! Não quero!
Talvez um dia
Se todavia existirem,
Talvez.
SOU O QUÊ?
Eu sou e não sou nada
Chuva e deserto
Maquina perfeita
Na juventude,
Escangalhada na velhice,
Tomo banho de bica
Quando chove,
Vaca que morre na seca,
Bebo toneladas de cerveja,
Mijo nas esquinas do tempo,
Amo as mulheres,
Mais ainda, se usam
Cuequinhas de seda vermelha,
Sou bicho político,
Detesto políticos,
(Na maioria, são demagogos)
Meu parlamento
Minha consciência,
Gosto da Suíça,
Basileia, foi o meu renascimento,
Meigo e bruto mas
Detesto guerras,
Língua bicéfala com
Veneno e mel,
Vivo numa cloaca chamada Terra
Sou humano, coisa fodida,
Cangalheiro atirando terra,
Sou homem você mulher, somos mortais.
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