Companheiro de cantores da resistência, como Francisco Fanhais, Vitorino e José Afonso, Fernando Fitas revisita este portal, dando-nos a honra de ser seu colaborador assíduo. Mais dois dos seus poemas ficam aqui registados:
A REVOLTA ENTRE OS DEDOS
Espectadores da morte, ultrapassaremos as fronteiras do medo,
convictos de que as intifadas nascem subitamente entre a ponta dos dedos
afirmando dizeres que perderam o nome,
porque o que nos usurpam jamais pode ter nome,
a não ser que se chame barbárie ou genocídio
de alguém que apenas quer a pátria de uma pátria.
Ninguém pode encerrar o lume numa lâmpada.
Da mesma forma que ninguém pode expulsar-nos
do chão que nos pertence.
Por isso aqui estaremos. Por isso é que aqui estamos.
Não morremos ainda nas pedras que lançamos
e contudo sabemos que nunca saberemos
o tempo que nos resta,
as lutas que nos esperam,
até que a luz se acenda sobre Jerusalém e o Monte Sinai.
QUOTIDIANO
Quando um cão nos cai em cima, uma matilha late;
do céu desce a sombra de um ladrar ferrando- nos a carne
e o ganir das dentadas afugentando a(s) defesa(s) da presa.
Então, como escapar ao rosnar que os ossos mais incitam
no focinho de canídeos tão sedentos de sangue?
Talvez, também, mordê-los. Até que os deuses venham,
inevitavelmente, acudir a seus uivos.
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