quarta-feira, 12 de setembro de 2018

[0087] Arménio Vieira, o "conde de Silvenius"

18.11.2016 - Autografando, na Sociedade Portuguesa de Autores (Lisboa, Portugal), o seu livro "Silvenius"

Prémio Camões de 2009, Arménio Vieira (de seu nome completo Arménio Adroaldo Vieira e Silva) nasceu na cidade da Praia em 1941. Jornalista, poeta e escritor, integra a “geração de 1960” da poesia cabo-verdiana. Tem o pseudónimo de Conde de Silvenius. Foi com Mário Fonseca (já aqui referido) um dos fundadores da revista “Seló”. No período anterior à independência de Cabo Verde, esteve preso pela PIDE. De veia satírica e crítica, tem diversos títulos de poesia editados: “Poemas”, “Mitografias”, “O Poema, a Viagem, o Sonho”, “O Brumário”, “Derivações do Brumário”, “Fantasmas e Fantasias do Brumário”.


CONSTRUÇÃO NA VERTICAL

Com pauzinhos de fósforo
podes construir um poema.
Mas atenção: o uso da cola
estragaria o teu poema.
Não tremas: o teu coração,
ainda mais que a tua mão,
pode trair-te. Cuidado!
Um poema assim é árduo.
Sem cola e na vertical,
pode levar uma eternidade.
Quando estiver concluído,
não assines, o poema não é teu.


EM LISBOA

          A Ovídio Martins e Oswaldo Osório

Em verdade Lisboa não estava ali para nos saudar.
Eis-nos enfim transidos e quase perdidos
no meio de guardas e aviões da Portela
Em verdade éramos o gado mais pobre
d’África trazido àquele lugar
e como folhas varridas pela vassoura do vento
nossos paramentos de presunção e de casta.
E quando mais tarde surpreendemos o espanto
da mulher que vendia maçãs
e queria saber d’onde… ao que vínhamos
descobrimos o logro a circular no coração do Império.
Porém o desencanto, que desce ao peito
e trepa a montanha,
necessita da levedura que o tempo fornece.
E num camião, por entre caixotes e resquícios da véspera,
fomos seguindo nosso destino
naquela manhã friorenta e molhada por chuviscos d’inverno.

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