quarta-feira, 12 de setembro de 2018

[0086] Luís Filipe Sarmento, de novo nos visita

Revisitando este portal, Luís Filipe Sarmento é um autor que nos prestigia. 

Nasceu em 1956, é jornalista e realizador de televisão, cinema e vídeo, poeta e escritor, professor de escrita recreativa. 

Foi Coordenador Internacional da Organization Mondial de Poètes, Presidente da Associação Ibero-Americana de Escritores e é membro do International Comite of World Congress of Poets. 

Aqui deixamos mais três dos seus poemas:



Sabe que tudo é formado por coisas simples
e nada simples é
tudo é necessário e mortal. Do dogma à crítica transcendente,
o fragmento da totalidade no espaço e no tempo
é o que se intui, nem olho de deus nem arquitecto do universo
nem ser necessário, nega a sua necessária existência.
A razão de ser de todas as coisas não é deus, talvez a coisa
não se demonstre por impossibilidade da sua nudez ideal.
Do natural defeito ao erro irracional,
a refutação de uma falsa origem, o buraco negro e o seu esplendor
imaginariamente artístico. Onde as periferias são sugadas
e aniquiladas por uma potência teórica
da qual pouco se sabe. O movimento, sem roda nem deus,
faz da expansão a sua existência comum num lugar a haver.   


…………

Que lugar tem a ciência no mundo transcendente?
Pensa na água e na matéria do planeta, no sangue
e na mãe-fenómeno, a extensão do real à dilatação
dos olhos, o deslumbramento dos líquidos veneráveis,
a varanda suspensa sobre as interrogações
que navegam nos abismos dos mistérios concedidos
à observação; pensa nas coisas em si, na sua fulgurância
fenoménica, o que dos enigmas apreende,
o inexplicável na orografia da ciência,
o paradoxo de ser subterrâneo e aéreo a um tempo desconexo.
A razão especula (e ele ri no sossego do seu desassossego)
o que à existência a impossibilidade nega à resposta:
se a alma existe na eternidade
e se deus não é um auto-retrato do medo.   

…………

A causa daquele olhar foi a minha distração;
não houve recepção à lucidez daquela presença.
Inconscientemente omisso do mundo, a única existência
na abstração era a arquitectura do edifício da palavra.
Saber e acção, sem a ilusão quotidiana de um olhar,
razão e manifestação da ideia, texto em carne viva,
o sangue nas entrelinhas, o pulsar do ser,
a teoria da existência única.
Talvez a percepção do teu sinal
me levasse ao conhecimento desse olhar que questiona
o homem absorto da realidade dessa existência
que poderia escrever a quatro mãos
o que o presente desconhece do futuro. 

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