quarta-feira, 12 de setembro de 2018

[0083] Alda Lara, a beleza da poesia angolana

Alda Lara (de seu nome completo Alda Ferreira Pires Barreto de Lara Albuquerque) é uma das referências fundamentais da literatura angolana. 

Nasceu em Benguela em 1930 e faleceu Cambambe em 1962. Veio para Portugal ainda jovem concluir os liceus e ingressar na faculdade, e em Portugal viveu 13 anos. 

Integrou a Casa de Estudantes do Império e casou com o escritor moçambicano Orlando Mascarenhas. 

Poeta e escritora, a sua obra foi quase toda editada postumamente por seu marido.


PRELÚDIO

Pela estrada desce a noite
Mãe-Negra desce com ela

Nem buganvílias vermelhas,~
nem vestidinhos de folhos
nem brincadeiras de guizos
nas suas mãos apertadas

Só duas lágrimas grossas
em duas faces cansadas.

Mãe-Negra tem voz de vento,
voz de silêncio batendo
nas folhas do cajueiro…
tem voz de noite descendo
de mansinho pela estrada.

… Que é feito desses meninos
que gostava de embalar?
Que é feito desses meninos
que ela ajudou a criar?
Quem ouve agora as histórias
que costumava contar?...

Mãe-Negra não sabe nada.
Mas ai de quem sabe tudo,
como eu sei tudo,
Mãe-Negra…

É que os meninos cresceram
e esqueceram
as histórias
que costumava contar…
Muitos partiram pra longe,
quem sabe se hão de voltar!...

Só tu ficaste esperando,
mãos cruzadas no regaço,
bem quieta, bem calada…

É a tua voz deste vento,
desta saudade descendo
de mansinho pela estrada….

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