Natural do Funchal, nascido em 1945, José Viale Moutinho é ficcionista, contista, jornalista e poeta. Descendente de italianos, autor de uma extensa obra, recebeu o Prémio Júlio Pereira de Matos em 1978 e o Prémio Rosalia de Castro e 2012. Foi presidente da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto.
1
Não escondo moedas negras,
o ouro não me cabe
aqui nas algibeiras,
desaparece antes de eu
o poder ver meu,
escuta, carregamentos de madeira
e metais vão para o fundo das gavetas,
não me reconheces,
desaparece dos teus olhos
a curiosidade inerente
aos meus convidados de pedra,
abre a agonia, e assim aguarda
que eu acene à tua vontade
de não ver coisa nenhuma,
depois dispersa, os pretorianos
chegam à beira da tua porta,
ensina-lhes o caminho
para o jardim dos últimos cactos,
2
Não respondas às perguntas
do inspector destes tempos,
depressa, entra no espaço
que esvazio de sentido,
ilude a voz que se perde
onde não há a menor perseverança:
a casa-museu de um escritor
é uma ara de coisas mortas
que perdem o sentido do rumor,
amanhã estará tudo esquecido
quem quiser esquecer saiba:
os seus papeis foram lançados
na sanita, os silêncios misturados
numa chávena de café,
ah, é a amargura de sempre,
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