segunda-feira, 3 de setembro de 2018

[0040] Maria Manuela Margarido e a denúncia da opressão colonial

Maria Manuela Carvalho Margarido nasceu em 1925 na ilha do Príncipe, na roça Olímpia, e faleceu em Lisboa em 2007. Descendente de judeus, indianos e angolanos, foi casada com o escritor português Alfredo Margarido. Uma das mais significantes poetisas santomenses, foi empenhadamente independentista, sendo uma destacada voz denunciadora do massacre de Batapá. Relacionado com a comunidade africana que vivia em Lisboa, foi membro e activista da Casa de Estudantes do Império. Foi presa pela PIDE e encarcerada em Caxias, esteve exilada com o marido em Paris, onde se licenciou e fez teatro. Depois da independência de S. Tomé e Príncipe, foi Embaixadora do seu país na capital francesa.


ALTO COMO O SILÊNCIO

A ilha te fala
de rosas bravias
com pétalas
de abandono e medo

No fundo da sombra
bebendo por conchas
de vermelha espuma
que mundos de gentes
por entre cortinas
espessas de dor.
Oh, a tarde clara
deste fim de inverno!
Só com horas azuis
no fundo do casulo,
e agora a ilha,
a linha bravia das rosas
e a grande baba negra
e moral das cobras.


VÓS QUE OCUPAIS A NOSSA TERRA

É preciso não perdr
de vista as crianças que brincam:
a cobra preta passeia fardada
à porta das nossas casas.
Derruba a árvores fruta-pão
para que passemos fome
e vigiam as estradas
receando a fuga do cacau.
A tragédia já a conhecemos:
a cubata incendiada,
o telhado de andala misturando-se
ao cheiro do andu
e ao cheiro da morte.
Nós nos conhecemos e sabemos,
tomamos chá do gabão,
arrancamos a casca do cajueiro.
E vós, apenas desbotadas
máscaras do homem.
apenas esvaziados fantasmas do homem?
Vós que ocupais a nossa terra?

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