Luís Carlos Patraquim nasceu na antiga Lourenço Marques (hoje, Maputo) em 1953 e vive actualmente em Lisboa. Poeta, dramaturgo, roteirista e jornalista, esteve refugiado na Suécia para escapar à repressão colonialista. Foi um dos fundadores, sob a direcção de Mia Couto, da Agência de Informação de Moçambique (AIM). Autor de “Vinte e Nove Formulações e uma Elegia Carnívora” (1992), “Mariscando Luas” (1992), e “O Osso Côncavo” (1997).
Foi Prémio Nacional de Poesia em Moçambique em 1995.
Foi Prémio Nacional de Poesia em Moçambique em 1995.
Quando o medo puxava lustro à cidade
eu era pequeno
vê lá que nem casaco tinha
nem sentimento do mundo grave
ou lido Carlos Drummond de Andrade
os jacarandás explodiam na alegria secreta de serem vagens
e flores vermelhas
e nem lustro de cera havia
para que o soubesse
na madeira da infância
sobre a casa
a Mãe não era ainda mulher
e depois ficou Mãe
e a mulher é que é a vagem e a terra
então percebi a cor
e metáfora
mas agora morto Adamastor
tu viste-lhe o escorbuto e cantaste a madrugada
das mambas cuspideiras nos trilhos do mato
falemos dos casacos e do medo
tamborilando o som e a fala sobre as planícies verdes
e as espigas de bronze
as rótulas já não tremulam não e a sete de Marco
chama-se Junho desde um dia de há muito com meia dúzia
de satanhocos moçambicanos todos poetas gizando
a natureza e o chão no parnaso das balas
falemos da madrugada e ao entardecer
porque a monção chegou
e o último insone povoa a noite de pensamentos grávidos
num silêncio de rãs a tisana do desejo
enquanto os tocadores de viola
com que latas de rícino e amendoim
percutem outros tendões da memória
e concreta
a música é o brinquedo
a roda
e o sonho
das crianças que olham os casacos e riem
na despudorada inocência deste clarão matinal
que tu
clandestinamente plantaste
AOS GRITOS
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