Alda Espírito Santo (de seu nome completo Alda Neves da Graça do Espírito Santo) foi uma das moldadoras da poesia santomense. Empenhada combatente pela independência de S. Tomé e Príncipe, aí nasceu em 1926 e aí faleceu em 2010. Escritora e poeta, ocupou cargos governamentais no seu país após a independência: Ministra da Educação e Cultura, da Informação e Cultura, foi igualmente Presidente da sua Assembleia Nacional. Uma das fundadoras da União Nacional de Escritores e Artistas de S. Tomé e Príncipe, de que foi Secretária-Geral, é autora da letra do hino nacional santomense. Autora de “O Jogral das Ilhas” (1976), “É Nosso o Solo Sagrado da Terra” (1978), “Cantos do Solo Sagrado” (2006), “O Coral das Ilhas” (2006), “Mensagens do Canto do Ossobó” (2008). Teve especial participação na conservação e mesmo edição da literatura santomense contemporânea.
ILHA NUA
Coqueiros e palmares da Terra Natal
Mar azul das ilhas perdidas na conjuntura dos séculos
Vegetação densa no horizonte imenso dos nossos sonhos.
Verdura, oceano, calor tropical
Gritando a sede imensa do salgado mar
No deserto paradoxal das praias humanas
Sedentas de espaço e devida
Nos cantos amargos do ossobô
Anunciando o cair das chuvas
Varrendo de rijo a terra calcinada
Saturada do calor ardente
Mas faminta da irradiação humana
Ilhas paradoxais do Sul do Sará
Os desertos humanos clamam
Na floresta virgem
Dos teus destinos sem planuras…
ANGOLARES
Canoa frágil, à beira da praia,
panos preso na cintura,
uma vela a flutuar…
Caleima, mar em fora
canoa flutuando por sobre as procelas das águas,
lá vai o barquinho da fome.
Rostos duros de angolares
na luta com o gandu
por sobre a procela das ondas
remando, remando
no mar dos tubarões
p’la fome de cada dia.
Lá longe, na praia,
na orla dos coqueiros
quissandas em fila,
abrigando cubatas,
izaquente cozido
em panela de barro.
Hoje, amanhã e todos os dias
espreita a canoa andante por sobre a procela das águas.
A canoa é vida
a praia é extensa
areal, areal sem fim.
Nas canoas amarradas
aos coqueiros da praia.
O mar é vida.
P’ra além as terras do cacau
nada dizem ao angolar
“Terras tem seu dono”.
E o angolar na faina do mar,
tem a orla da praia
as cubatas de quissandas4
as gibas pestilentas
mas não tem terras.
P’ra ele, a luta das ondas,
a luta com o gandu,
as canoas balouçando no mar
e a orla imensa da praia.
(É nosso o solo sagrado da terra)
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