terça-feira, 28 de agosto de 2018

[0019] Gloria Gabuardi e a poesia da Nicarágua

Gloria Gabuardi é uma poetisa nicaraguense, secretária-executiva do Festival de Poesia de Granada, cidade do seu país, fundadora do Associação Nicaraguense de Escritoras e também artista plástica. Nasceu em Manágua em 1945. Formada em Direito, foi assessora da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Nacional nicaraguense da década de noventa. Ganhou o Prémio Ricardo Morales em 1982. Da sua lírica eivada de um certo surrealismo, traduzo um poema sobre os seus anjos e demónios e protelo para próxima oportunidade um poema dedicado a seu pai, diversas vezes preso pela ditadura somozista e sujeito às mais violentas torturas. Gabuardi é uma das vozes libertárias que se erguem para além das ilusões sandinistas.

OS MEUS ANJOS E OS MEUS DEMÓNIOS

Tenho sonhos azuis e de paraísos
sonhos com pequenas caixas de música
com cofres e barquitos solitários
com sombras de figurinhas de animais
e com rostos aguçados e corpos que rodam no vazio.
Aí enterrei a noite e os esconjuros
desbaratei a solidão
com os anjos e demónios
que se levantam entre rasgos de luzes
e voam secretamente com música de Bach.
Daí saem fantasmas brancos e púrpuras
ébrios de lua e com flores roxas
ansiosos por galopar a noite e as estrelas
de saltar à corda
o mar da inconsciência.
Nas rendas da minha alma guardo esses sonhos
escondo o silêncio e afundo-o nos meus punhos
abro nos plainos as portas da minha alma
as feridas dos girassóis
desperto o corpo dormido
retomo o aproveitamento da liberdade
a passagem da vida pela minha porta
à luz da lua em seu quarto minguante.

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