sábado, 25 de maio de 2024

[0782] Luís Palma Gomes, poema "isolado"


UM ATO ISOLADO

Ao Nuno Júdice, in memoriam 


Ás vezes tenho a sensação que só o poeta é feliz,

e por poucos segundos apenas.


Constrói uma casa com o vapor do duche,

senta-se depois confortável lá dentro

ou deita-se de barriga para cima 

a contemplar o teto a passar.


Até que alguém — que não sabe ao que vem —

abre a porta e deixa entrar o vento da multidão.


Talvez poucos saibam, mas a poesia é um T0

num subúrbio discreto (para não lhe chamar outra coisa pior.).

E torna-se insuportável com muita gente lá dentro.


É pena ter que dizê-lo, logo hoje num dia tão bonito,

que a poesia é um ato insocial.




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