terça-feira, 19 de dezembro de 2023

[778] De Luís Palma Gomes, um poema de Natal



PEDIDO DE NATAL


Ouves o tempo,

cínico e claro

clepsidra de vento

perdendo a razão

porque a loucura é

e será sempre

a melhor desculpa

para quem deixou de acreditar.


Ouves o tempo,

fio que conduz

fio de cem pontas inenarráveis

serpenteando por lugares, olhares

que pareciam ter a certeza

 ou medo talvez disfarçado

de penas e asas, 

levantando em voo 

num bando de incontáveis sensações.


Seremos uma cápsula engolida por um gigante

e regurgitada depois numa galáxia distante?

Que ele nos engole é certo.

Se nos regurgita depois 

jovens e intactos

numa praia do sul,

é o nosso desejo secreto, sereno,

a primeira prenda que pedimos em cada Natal.



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