Viajando pela ilha do Maio, Nuno Rebocho encontrou a memória dos piratas que no passado ali fundearam, convertendo-a numa espécie de “santuário” e de “nova Tortuga”. À beira da belíssima salina de Porto Inglês, o poeta construiu o poema que aqui nos traz.
na gávea desfibro o horizonte
com a alma à cintura pronta a espadeirar
coragens inglórias e frenesis de medos:
à abordagem! grito e desperto o mar
e a meninice dos poetas: eles sabem
as dores do mundo e mordem a vida
com a clarividência dos profetas
- eles sabem o que custa parir
e continuar a sorrir
e de maio parto para as ilhas dos meses
que todas com o coração se escrevem
e com a mesma chacina dos dias:
na vigia da vela que se descortina
ou na ânsia da chuva que afaga ou
de quando a esperança se reescreve
sobre o mapa de tudo recomeçar e o mundo
- levantar âncoras estimula a vontade
de valer mais que cada golpe a liberdade
confesso: já fui pirata no corso dos desejos
- o que ficou foi o imenso mar nunca alcançado
e a suspeita de outros mares e outros. fundeei
para o alimento das tabernas: só restou
a mortalha da memória e a sede
de nunca renunciar. e sobrou o mar.
eu sei que é nos tombadilhos que a noite adormece
e a água espreita o sobressalto do combate
mas não temo alguma vez naufragar
trago da salina o curativo das feridas
e as mãos curtidas pelo astro mouro. já doeu.
já não dói. mesmo que as lágrimas rasguem
as rugas outonais garanto que não dói:
icem as velas para largadas novas
e lá vou eu – para outras refregas e novas saudades
lâmina na boca e peito exposto:
a novidade nunca cansa quando a esperança é gosto
e a carta de rumos saboreia a liberdade
Mesmo lindo.
ResponderEliminarCara pessoa (senhor ou senhora):
EliminarAgradecemos mas lembramos que não deixou o seu nome...
Abraço,
IM