Viajeiro depois dos anos de prisão a que a ditadura salazarista o votou, o poeta guardou sempre a memória das paisagens que marcaram a sua vida. É exemplo este poema dos seus “Cantos Cantábricos” onde se expressa a solidariedade para com os povos “silenciados” e atirados para o “labirinto do sofrimento”.
SEGREDOS QUE RASGAM OS MEDOS
meu povo curdo, meu povo corso, meu povo basco
árvores sem chão no chão de todos
de quem o vento fala. irmãos vos chamam
mesmo quando as bocas calam
e as mãos enganam
irmãos no labirinto do sofrimento onde as casas esperam
o regresso das vidas e dos berços
até que as mães esqueçam os seus medos.
em vós me aqueço nas estevas da memória
sobre o chão sagrado que as lágrimas ferem.
por que rumos vamos? o século murcha
e caminhamos nas franjas da ousadia
rente aos penedos que encobrem a alegria
- e vamos com as chagas de cada dia
para junto ao silêncio rasgar segredos
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