De seu nome José Paulista Paes, nasceu em Taquaritinga em 1926 e faleceu em S. Paulo em 1998. Químico industrial, crítico literário, ensaísta, tradutor e poeta, recebeu o Prémio Jabuti em 1983, 1986 e 1988. Integrou o chamado grupo dos “Novísssimos” e, posteriormente, o movimento concretista. Dirigiu a Editora Cultrix.
POESIA É...
Poesia é... brincar com as palavras
como se brinca com bola,
papagaio, pião.
Só que bola, papagaio, pião
de tanto brincar se gastam.
As palavras não:
Quanto mais se brinca com elas,
mais novas ficam.
Como a água do rio
que é água sempre nova.
Como cada dia que é sempre um novo dia.
Vamos brincar de poesia?
CADÊ
Nossa! que escuro!
Cadê a luz?
Dedo apagou.
Cadê o dedo?
Entrou no nariz.
Cadê o nariz?
Dando um espirro.
Cadê o o espirro?
Ficou no lenço.
Cadê o lenço?
Dentro do bolso.
Cadê o bolso?
Foi com a calça.
Cadê a calça?
No guarda-roupa.
Cadê o guarda-roupa?
Fechado a chave.
Cadê a chave?
Homem levou.
Cadê o homem?
Está dormindo
de luz apagada.
Nossa! que escuro!
ODE À MINHA PERNA ESQUERDA
Desço
que subo
desço que
subo
camas
imensas.
Aonde me levas
todas as noites
pé morto
pé morto?
Corro, entre fezes
de infância, lençóis
hospitalares, as ruas
de uma cidade que não dorme
e onde vozes barrocas
enchem o ar
de p
a
i
n
a sufocante
e o amigo sem corpo
zomba dos amantes
a rolar na relva.
Por que me deixaste
pé morto
pé morto
a sangrar no meio
de tão grande sertão?
não
n ã o
N Ã O !
ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA
a poesia está morta
mas juro que não fui eu
eu até que tentei fazer o melhor que podia para salvá-la
imitei diligentemente augusto dos anjos paulo torres carlos drummond de andrade /manuel bandeira murilo mendes vladimir maiakóvski joão cabral de melo neto
/paul éluard oswald de andrade guillaume apollinaire sosígenes costa bertolt brecht /augusto de campos
não adiantou nada
em desespero de causa cheguei a imitar um certo (ou incerto) josé paulo paes poeta de /ribeirãozinho estrada de ferro araraquarense
porém ribeirãozinho mudou de nome a estrada de ferro araraquarense foi extinta e /josé paulo paes parece nunca ter existido
nem eu
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