José Carlos Costa Marques nasceu no Porto em 1945. Professor, tradutor, assessor editorial, editor e poeta, foi cofundador da série “DiVersos – Poesia e Tradução”, em 1966.
SEM TÍTULO
para José Maria Cumbreño
Arte na terra Precisa de arte a terra
Ou toda a arte é mais que terra
Rochas erguidas no horizonte Calhaus que as eras esculpiram
Não serão eles arte bastante?
A terra O azul solar Sim – não pode haver melhor matéria
Bem servida arte que nela se inscreve
Que paisagem terá mais arte com a arte
O que ela acrescenta
Queremos deixar a nossa marca
Julgamos belo o que acrescenta a nossa mão
Das mais remotas eras passadas Quando não havia arte
Rumo aos mais longínquos tempos ainda por vir
Navegam tranquilamente imóveis estes rochedos
Vela desfraldada
Quietude que arte alguma consegue perturbar
POEMA
Irrompe em novembro entre a morrinha a grande árvore
Com suas folhas de fogo Do amaraeo ao rubro Do sol ao carmesi
Para trás ficou o verde no seu esplendor O verde e sua força
nos inícios O verde na serenidade do verão que se instalou
Vai isso longe Ontem ainda a canícula apertava
Deixava-nos a sede
E agora na bruma da chuva que insiste arde a brasa de outono
E suas chamas quietas Ao lado grandes árvores mas estas agora pálidas
No verde esclerosadas A que a chama não chegou ainda
No largo oculto da cidade Por entre as máquinas ininterruptas
Que circulam Brada o seu chamamento o ardor do fogo
O ardor que vem de quando não havia máquinas
O ardor que aqui estará quando de todas as máquinas
Restar sucata apenas
SEM TÍTULO
Agita a catalpa ao vento na vertente as suas bandeirinhas verdes
Com ela conversa o eremita de oito dias desapegando-se dos humanos
E nós com nossas vozes e ruídos, crianças e correrias, risos e gritos
Seus ecos que rapidamente se perdem na distância
Aos humanos nos apegamos mais ainda sem sabermos como
Apego que nos alegra e nos dói, por vezes nos esmaga e destroça
E outras vezes exalta Ao longe na distância que resta de humano
Ao eremita? Talvez a solidão, a voz perdida não ouvida, o silêncio…
Ou a fecundidade…
Descobri JOSÉ CARLOS COSTA MARQUES na "GAZETA DE POESIA INÉDITA" com o poema "FIGUEIRA EM TOLEDO". Gostei bastante. Um poema contido, que traduz um apontamento urbanístico, uma figueira junto à muralha antiga de Toledo, para uma vivência interior. No final uma premunição dirigida ao leitor, fez-me lembrar a "Muriel" de Ruy Belo, poema curiosamente também situado em Espanha. Dos aqui publicados, gostei do segundo, "Poema", também porque através da invocação da natureza e das estações o poeta revela o seu olhar sobre as coisas.
ResponderEliminarMuito obrigado pela sua participação. Volte sempre.
EliminarUm abraço,
Joaquim Saial