Aurelino Costa nasceu em 1956 em Argival, Póvoa do Varzim. Advogado, poeta e diseur, actor de cinema, é um dos autores da nova poesia portuguesa.
À EXCEPÇÃO
estender as mãos
no peito elegíaco da memória
debruçar sobre as anémonas
neste dia de tragos húmidos e verdes
de sol borracho e intempéries
colher hálitos de begónias selvagens
e não morrer
há um pathos maior
e coagulador
neste fado.
SOB DELÍRIO
sob delírio a barca
a língua e o calvário
deixa que poisem as aves
e amanheça o fermentar das claves
as asas apavonam os ventos
e as maçãs
açucaram martelos.
PARA A VIDA
(a Manuel Lopes, bibliotecário)
Custa-me a andar, é o mistério do voo
que anda agora a apaixonar-me. Livre
como aquela gaivota que sobrevoa o mastro,
o que eu quero, é o azul e o mar,…
Lá me encontrareis sempre, depois de enviar
cartas aos amigos
Da janela do meu quarto avisto tudo
como se quisesse abraçar
os dias brancos de todos os meus anos.
Quanto ao mais?!, continuai a lutar, a guerra…,
porque é de cinza a leveza de meu corpo
e não quero restos a pesar a ninguém,
só quero o vento e o mar…
– peito em quilha, ó Homem do leme!
Respondi.
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