quinta-feira, 27 de setembro de 2018

[0213] Um monumento, um poema (1) FERNANDO PESSOA. Lisboa

Hoje, Fernando Pessoa
A partir de hoje e com alguma regularidade, IM passa a apresentar estátuas ou monumentos escultóricos dedicados a poetas nacionais e estrangeiros. A etiqueta será a do título deste post. Embora tenhamos razável stock, solicitamos aos nossos visitantes que nos enviem (boas) fotografias de monumentos por si fotografados (para evitar problemas autorais), com a indicação do local onde se encontram as peças e se possível alguns dados sobre autoria, feitura, inauguração, mudança de local, etc. Fica desde já o nosso agradecimento. Começamos com o Fernando Pessoa de Lisboa - um bom começo, como se compreende.

A estátua fica situada junto ao Café Brasileira (do Chiado) e é motivo de incontáveis registos fotográficos com acompanhamento de figurantes nacionais e sobretudo turistas, pois a isso se presta e para isso foi feita. A mesa e as cadeiras são réplicas de mobiliário do café e a cadeira que se encontra vazia só foi "agarrada" ao solo depois de enquanto solta ter andado a vaguear pela Rua Garrett. 

A inauguração teve lugar a 13 de Junho de 1988, durante os mandatos de Krus Abecasis (presidente da Câmara Municipal de Lisboa) e de Mário Soares como Presidente da República.

Ver AQUI a biografia de Fernando Pessoa e  AQUI e AQUI a de Lagoa Henriques.

O gesso da estátua, na Faculdade de Belas Artes de Lisboa

A estátua, acompanhada de Fernando Frusoni, filho do grande poeta cabo-verdiano Sérgio Frusoni

O Presidente Mário Soares descerrando o monumento a Fernando Pessoa.

Excerto da notícia da inauguração no lisboeta "Diário de Notícias", de 14.Junho.1988. Onde se diz que a estátua de bronze situada em frente ao monumento representa o autor d'"Os Lusíadas", deveria dizer-se que é dedicada ao poeta António Ribeiro, dito "Chiado", por ter residido nessa zona da cidade. Foi contemporâneo e conhecido de Luís de Camões mas... mas... não é ele...

ANIVERSÁRIO

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui…
A que distância!…
(Nem o acho…)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes…
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas
lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio…

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos…
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim…
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

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