J. A. S. Lopito Feijóo é um poeta e crítico literário angolano, Prémio da Lusofonia de 2017, que revisita este portal. A sua poesia tem particular importância na literatura contemporânea de Angola.
IMAGINAÇÃO 4
Ainda voltareis a matar a pura mbulunga
nas artérias do coração da embriagada cidade
complementarmente antes abastecida
por deuses dementes e santos sarnentos.
Saireis calando bocas e ajudando maridos
tirando biquínis de brancas Marias alemãs
e doutras atitudes longitudinais, com importadas
virtudes reconhecidas de fálica importância,
regando Roques e remarcados embondeiros
do Cazenga e da Calemba com novos toureiros...
Reciclando alucinado kuduro resta um tempo e,
no escuro futuro impuro, juro duro e maduro.
Atrofiados acabareis vendendo a mãe,
o pai e, aos montinhos, a própria pátria!
IMAGINAÇÃO 5
Imaginando mágoas de mar calado
sucessiva e agressivamente molhado
na ondulada e natural arrogância
das águias reais com asas salgadas.
Reformulada imaginação de seca amperagem
assente em pilhagem e robusta estiagem.
E o porvir não vem se além alguém
não o tem para nós também aquém
reciclados –enfim- por quase ninguém!
IMAGINAÇÃO 6
Acentuadamente invertida a pirâmide
dos mundos socias, de mãos encolhidas
pisamos o céu olhando para o chão.
O chão que já foi chão agora é céu
o céu agora céu transformaste em chão
suportando magoados e velhos sentimentos.
Insones insinuações e puras alucinações
na rota dos seculares movimentos cerebrais
enquanto luminárias de saudáveis reflexões.
O mundo espiritual não é mais o mesmo
o céu e a terra têm outras diagramações
os povos de bem movem suas premonições!
IMAGINAÇÃO 7
Confirmada vibração ondulada
com sonora frequência modulada
reflectindo no brilho dos verdes olhos
da velha víbora encurralada
nos meandros da comunidade singular.
Veste-se nobre a esperança popular
novos são também os calados desafios
de quem sementes infiltrou nas mentes
de tolos e tarados tarefeiros reclinados.
Confinada adivinhação de felicidade social
esperança é espiritual motivo sagrado
não morre qual desencantado canino
nas estradas da amargura implantada
em solos de visível infertilidade cultural.
IMAGINAÇÃO 8
Chuva querida chuva ferida
chuva imaginada chuva esperada
atrofiando o angustiado canto das rãs
moldando o destino de todos os fãs.
O canto das rãs e o destino dos fãs
sobrevivem amarrados à tua energia
revigoram a irreversível força anímica dos
comandos salutares de ancestrais maresias.
Chuva querida chuva ferida…
divina chuva –sagrada- chorada chuva!
IMAGINAÇÃO 9
Negligenciando não estendestes
os recados que deixamos solidificados
nas frias e cinzas manhãs do poder
sem paredes para arriscar simples subida.
Vamos acreditar na incerteza
de quem por cima do velocípede
soluçando se olvidou da pedalagem.
Movimentamos nuvens transbordantes,
sinalizando catastróficas enxurradas e
nos lençóis de previsíveis abalos cénicos
agrafamos riscados, os muros que não lestes.
Agora os ventos de novos intentos
assobiam estridentes por entre os soltos
dentes talhados para novas esfregas
novos desafios novos e finos desatinos
novos destinos. Outros destinatários!
IMAGINAÇÃO 10
Estranha tarde com teto colorido
depois da falecida manhã reaberta
vimos vislumbrar a noite amanhecendo
fecunda segundo a lenda das orgias.
Estranhas entranhas na fenda da funda
vala valendo dolorosos vales por pagar.
Estranhas montanhas entre tamanhas
desconfianças ali onde a confiança é
palavra de ordem na vida ou na morte
de fiéis combatentes e amantes da pátria!
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