sexta-feira, 14 de setembro de 2018

[0106] Ronaldo Werneck revisitado

Jornalista e poeta brasileiro, Ronaldo Werneck nasceu em 1943 na cidade de Cataguases, no Estado de Minas Gerais. Foi editor de vários Suplementos Literários a partir da dos anos 1960 e colaborou com vários órgãos da imprensa. A partir de 2005, foi Director de Comunicação do Festival Cineport, o Festival de Cinema de Países de Língua Portuguesa. É autor de diversos títulos de poesia. Já foi publicado neste portal e agora revisita-nos. Muitos nos honra.

HUNGER & CO.
Há mundos futuros, república,
cristianismo, céus, loengrim.
São mundos presentes:
patentes
     vanderbilt-north, sul-serafim
Sousândrade

1.

chave cigarro isqueiro
lenço carteira dinheiro

     de que vale o homem
     contra o nome e a fome

o cotidano no bolso
o que sobra do nome
                                   um osso
     o sim pelo não
            chave
     mas sem porta

que importa o nome
quando o homem
                                           se  consome
                em si
                em sim
                em todos
                                        e nomeia o nome
no meio a fome
                a fome
                e seu nome
                                        HUNGER & CO.
a empre/s.a.
e seu desprezo
                            urbe et agro
a empresa
vereda do amargo
     money
                            abuU$A
     do lar
                            DÓLAR
                                        arcabouço da fome
que outro homem
                            come


2.

     do lar
                            a fome
     dólar
                            o nome

que importa um homem
no meio do money
que hunger & co. come?

     chave
     cigarro
     isqueiro

de que vale o homem
contra a fome
              a fome e seu nome
                                                       MONEY?
do lar o money
suga a dor           
o nome o ar

um homem e sua fome
um homem

                arquitetura
                de osso e espanto


3.

um  homem e sua mão
um  homem e seu não

mão que maneja o medo
não que nomeia o nome

diante do money
                                NÃO
diante da fome
                                NÃO        


4.

um dia ante a fome
a mão
              se levanta
ex urbe et agro
                          a mão
se levanta
contra a fome
o money o nome
o outro homem
e tudo



MAR DE CAMÕES AMAR

FLORBELA ESPANCA


– O que tens, bela? A que vens, Florbela?
– Mar de dor, dor a navegar, Camões.
Velas, clarões de carabelas velhas,
trôpegas, tontas sob o azul: canções.

– E tu, Luís, aonde vais, aonde?
– Mar de Camões amar Florbela Espanca

que se esvai: mar, Flor, bela flor: responde

amor, ao brado de seu bardo e canta.

Mas donde vens, vela, branca luz e tanta?
– Do mar me tens: mar, mar, maralto e largo
Flor D’Alma Bela da Conceição Espanca

esse mar, fado, mar de outroragora
doce amar, tanto mar que amar amargo.
– Flor, bela flor em desconcerto: chora.

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