terça-feira, 11 de setembro de 2018

[0079] Nuno Bermudes, um poeta contraditório

Nuno Fernandes Santana Mesquita Adães Bermudes, jornalista, escritor, poeta, ensaísta e pintor, nasceu na antiga Lourenço Marques em 1921 e faleceu em Lisboa em 1997. Obteve o Prémio Rui de Noronha em 1958. Teve vida repartida por Moçambique, Portugal e Brasil. Por tomar a defesa de José Craveirinha então perseguido pela PIDE, entrou em conflito com as autoridades coloniais. No entanto, optou pelo colonialismo português. Todavia, a sua obra poética e seu papel na divulgação da Cultura moçambicana não podem ser desprezados, tendo um lugar próprio na literatura colonial em Moçambique. 


MAPA-SEXO

Nossos corpos desenharam nos lençóis
o mapa de um país imaginário
– e neles abrimos rios,
descobrimos oceanos,
erguemos, entre gritos e gemidos,
cumes de montanhas,
desbravámos florestas,
neles nos perdemos
e, depois, nos encontrámos,
deixámo-nos cair,
exaustos,
em abismos,
morremos
e ressuscitámos.


AMOR

Saborear-te a boca devagar,
como a um fruto raro e sumarento,
e cada rijo seio te apertar,
num misto de prazer e sofrimento.

Depois, beijar-te o ventre e deslizar
por ele, num tão macio movimento
que de ave mais parecesse um adejar
do que um afago húmido e lento.

E só então, te possuir, amor,
teu corpo penetrando ferozmente,
nos braços te apertando com ardor,

até, no estrebuchar do frenesi,
imaginares que, em fogo, uma torrente
de lava, em ondas, desaguara em ti.

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