Viriato Francisco Clemente da Cruz nasceu no antigo Porto Amboim em 1928 e
faleceu em Pequim em 1973. Ligado que esteve com o Partido Comunista Angolano
nos anos 50 do passado século, em 1957 foi para Paris onde, com Mário Pinto de
Andrade, esteve na origem do movimento independentista angolano, participando
(em 1960) na fundação do que veio a ser o Movimento Popular de Libertação de
Angola, de que foi seu secretário-geral, que abandonou em 1962. Em choque com Agostinho
Neto – que acusou de “desviacionista” –, foi expulso do MPLA em 1963, tendo
sido preso e espancado pelos “netistas” em Leopoldville e depois em Lufungula. Fixou
residência na China Popular em 1966, aderindo às teses da revolução cultural
proletária chinesa, da qual se haveria de distanciar. Foi encerrado nos campos
de trabalho de Pequim, o mesmo acontecendo à sua família, em consequência de
que acabou hospitalizado e no hospital morreu muito fragilizado. Foi uma das
muitas vítimas da “revolução cultural” maoísta, deixando um último escrito no
qual, escarrapachando os nomes de alguns dos seus torcionários antigos
companheiros de luta, se afirma: “Não
está no meu poder perdoar os actos de felonia, de perseguição e de falta de
camaradagem que aqueles senhores e alguns dos seus sequazes praticaram, não só
contra mim, mas também contra um certo número de angolanos. Parece-me ser
altamente importante que tais actos sejam, em todos os tempos, condenados em
Angola como criminosos e desonrosos”. Em 1990, os seus restos mortais foram
trasladados para Luanda e sepultados com todas as honras, sendo considerado um
herói nacional. Para alguns, Viriato da Cruz terá sido o maior poeta angolano.
MAKÈZÚ
O pregão da avó Ximinha
è mesmo como os seus penos,
Já não tem a cor berrante
Que tinha nos outros anos
Avó Xima está velhinha,
Mas de manhã, manhãzinha,
Pede licença ao su reumático
E num passo nada prático
Rasga estradinhas na areia...
Lá vai para um cajueiro
Que se levanta altaneiro
No cruzeiro dos caminhos
Das gentes que vão p'a Baixa.
Nem criados, nem pedreiros
Nem alegres lavadeiras
Dessa nova geração
Das "venidas de alcatrão"
Ouvem o fraco pregão
Da velhinha quitandeira.
- "Kuakiè... Makèzú... Makèzú..."
- "Antão, véia, hoje nada?"
- "Nada, mano Filisberto...
Hoje os tempo tá mudado..."
- "Mas tá passá gente perto...
Como é aqui tás fazendo isso?"
- "Não sabe?! Todo esse povo
Pegó um costume novo
Qui diz qué civrização:
Come só pão com chouriço
Ou toma café com pão…
E diz ainda pru cima
(Hum... mbundo kène muxima...)
Qui o nosso bom makèzú
É pra veios como tu".
- "Eles não sabe o que diz...
Pru qué qui vivi filiz
E tem cem ano eu e tu?"
- "É pruquê nossas raiz
Tem força do makèzú!..."
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