quarta-feira, 22 de agosto de 2018

[0001] "Em nome de Goya" - Nuno Rebocho


EM NOME DE GOYA
Nuno Rebocho, in "Canções Peripatéticas", ed. apenas, Lisboa, 2012


pintava o Surdo o silêncio do sangue

(ah, charneca de amarelos touros!)
e crestava a romaria em San isidro
mais uma chusma de arrolados mouros.
pintava o Surdo a trsteza do vidro.

- de zaragoza que cores alvorotavam para as searas?
de onde roçaram os aromas infantis em bregas de pele
e morderam o pó das apressadas feiras? que bandarilhas
desfraldaram as extremas para o vício dos combates?

pintava o Surdo o negrume das chamas
(ah, charneca de rubros touros!)
e fuzilavam-se peitos sobre la moncloa
por onde se esvaiam dobras de tesouros.
pintava o Surdo o que o olhar não perdoa.

- que vim à sorte de cara lavada por lides de crestadura
que sobestava o que pimpilar não se podia. e em nome
do nome que o tempo dava, o tempo fazia a carne,
sortes de paleta nas muletas se escondiam. era em nome.

pintava o Surdo os dentes de saturno
(ah, charneca de azulíneos touros!)
quando na arena se desconjuntavam muros
pelos disparates de sacrílegos louros.
pintava o Surdo os cornos do futuro.

1 comentário:

  1. Um grande abraço de parabéns ao Nuno Rebocho pelo novo blogue, com votos de muito sucesso na divulgação da sua poesia e prosa e das de outros autores que ele admira.

    Joaquim Saial

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