terça-feira, 28 de agosto de 2018

[0016] Brasil: Ronaldo Werneck

Nascido em Cataguases, Minas Gerais, Ronaldo Werneck é homem dos sete ofícios: jornalista, cinéfilo, cronista e ensaísta, tradutor e crítico de cinema e de artes plásticas, cineasta, mas sobretudo POETA (e dos bons). 

É frequente vê-lo por aí, que não gosta de estar ancorado. Para o distinguir do “outro”, chama-lhe Ronaldinho Mineirão. Traz do neo-concretismo muito do seu estro. A sua poesia é para saborear, como esta:

QUATRO DA MANHÃ


há ainda restos de noite
meia lua que decresce
e agoniza no céu da varanda
uma lua esquálida pendurada na escuridão
há uma lua que agoniza
e faz-se um véu na noite
e faz frio
e são quatro
da noite-manhã
e faz frio de morte
na antemanhã
e
há um amigo a morrer
no claro-escuro da UTI
entre apagados sóis
lençóis soluços
um amigo
a morrer e nada mais
há uma lua plantada no céu
meia lua que teima
em não sumir
há uma manhã
que teima
em não nascer
há passos que passam
no silêncio da madrugada
passos que vão do nada
a lugar nenhum
há um medo antigo
da noite
de seus mistérios
de nada de nada de nada mais
há um frio na noite
onde
faz frio
frio
de morte
e nada e nada e nada mais

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