segunda-feira, 27 de agosto de 2018

[0007] A poesia de José Luís Mendonça (Angola)


JOSÉ LUÍS MENDONÇA, poeta de profissão, fez a sua aparição no mundo das Letras Angolanas, com “Chuva Novembrina”, obra à qual foi atribuído em 1981 o Prémio Sagrada Esperança pelo INALD - Instituto Nacional do Livro e do Disco. Actualmente dirige e edita o Jornal CULTURA, quinzenário angolano de Artes & Letras. O poeta nasceu a 24 de Novembro de 1955, no Golungo Alto, e é licenciado em Direito pela Universidade Católica de Angola. Iniciou-se no jornalismo estudantil, aos 17 anos de idade. Em 2005, foi contemplado com o Prémio “Notícias Gerais da Lusofonia”, no Concurso CNN-Multichoice Jornalista Africano e o Ministério da Cultura de Angola atribuiu-lhe o Prémio “Angola Trinta Anos”, na disciplina de Literatura, no âmbito das comemorações do 30º Aniversário da Independência Nacional, pela sua obra poética “Um Voo de Borboleta no Mecanismo Inerte do Tempo”. No ano de 2015, foi-lhe outorgado o Prémio Nacional de Cultura e Artes na categoria de Literatura, devido à singularidade do estilo e o valor cultural das temáticas tratadas, tendo instituído o amor como guia da sua produção literária, em torno da qual percorrem diversos temas, entre os quais as relações entre povos e o poder político, para além de, no conjunto da sua obra poética, associar a política e a ideologia, as interacções que a história recente de Angola levanta, as tradições populares e o maravilhoso, bem como a preservação do ambiente. Primeiro editor da revista Mensagem do MINCULT. Co-fundador e primeiro editor da revista O CHÁ (da Associação Chá de Caxinde) e fundador e editor da revista KISANJI, da delegação de Angola junto da UNESCO (Paris, onde trabalhou como Adido de Imprensa – 2008 a 2011). Editou também as revistas do Ministério da Cultura sobre a FEIRA DO LIVRO DE HAVANA 2013; e sobre o FENCULT 1014.

Projectos e Ensaios: no domínio da Educação e Cultura

PROJECTO LER É CRESCER – Em 1998, elaborou e implementou sob tutela do Ministério da Educação e com o apoio do INALD, o projecto intitulado ‘Ler é Crescer’, na vertente das bibliotecas manuais de turma, cujo objectivo é incentivar o gosto pela leitura, cultivar o espírito, isto é, aumentar o nível cultural do cidadão e aprimorar a capacidade de redacção e leitura da língua portuguesa, principalmente entre as camadas mais jovens (dos 10 aos 14 anos), nos centros escolares do país. O projecto ‘Ler é Crescer’ foi implementado nas províncias de Luanda, Bié e Moxico, com base nos apoios em material bibliográfico recebidos da União dos Escritores Angolanos, da UNESCO e do Instituto Camões. Actualmente, está desdobrado numa vertente comunitária, de proximidade aos utentes, intitulada ‘Leituras no Quintal’.

Bibliografia

01.      Chuva Novembrina, Poemas; 1981 Prémio Literário Sagrada Esperança (INALD-Instituto Nacional do Livro e do Disco)
02.      Gíria de Cacimbo, Poemas; 1987 (União dos Escritores Angolanos - UEA)
03.      Respirar as Mãos na Pedra, Poemas; 1990, Prémio Literário SONANGOL  (UEA)
04.      Quero Acordar a Alva, Poemas, 1996, Prémio Sagrada Esperança - INALD)
05.      Se a Água Falasse, 1997, 16 Poemas, Primeiro Prémio dos Jogos Florais do Caxinde
06.      Logaríntimos da Alma, Poemas, 1998 – UEA
07.      Ngoma do Negro Metal, Poemas, 2000 – Editora Chá de Caxinde
08.      Um Canto para Mussuemba, Antologia de poesia seleccionada, 2002 – Imprensa Nacional - Casa da Moeda (INCM), Lisboa
09.      Os Vinte Dedos da Vida, Conto, 2003 – Editorial Chá de Caxinde
10.  Cal & Grafia, Antologia de 20 anos de Poesia, 2005, Editora Kilombelombe
11.  Nua Maresia, Poemas, 2005 – UEA
12.  Um Voo de Borboleta no Mecanismo Inerte do Tempo, Poemas, 2006, Prémio “Angola 30 Anos” do Ministério da Cultura, INALD 
13.  Poesia Manuscrita pelos Hipocampos, Poemas, 2010 – UEA
14.  Olfactos do Afecto, Poemas, 2010 – UEA
15.  Africalema (Antologia, 102 poemas escolhidos), 2011 – NOSSOMOS, Póvoa De Varzim, Portugal
16.  Não Saias sem Mim à Rua esta Manhã, 2011 – NOSSOMOS, Póvoa De Varzim, Portugal
17.  Esse País Chamado Corpo de Mulher, 2012 – UEA
18.  O reino das casuarinas, romance, 2014, Leya (Lisboa) e Texto Editores (Luanda)
19.  Luanda fica longe, colectânea de contos, 2016, Leya (Lisboa) e Texto Editores (Luanda)
20.  Angola me diz Ainda, poesia de intervenção, 2017, Guerra & Paz (Lisboa) e Acácias (Luanda)


O POVO É FEITO DE BARRO

O povo é feito de barro
de pouca coisa na mão
do acontecimento tão triste
de ser ele quem paga a factura
das guerras que os líderes decretam.

O povo é feito da planta
mais fina que cresce no rio
um luando para dormir
três pedras para cozinhar
a sombra amena que desce
da palmeira de dendém.

O povo é o próprio capim
que os elefantes pisoteiam
e comem até arrotar.

Nosso povo era ferreiro
agora nem faca forjamos
a globalização vende tudo
pra quê deixar de comprar
se temos os bolsos bem gordos
com ramas de ouro negro?


Da obra “Angola, me diz Ainda” (2017)

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