quarta-feira, 10 de abril de 2019

[0621] Filinto Elísio, de novo


Acaba de ser editado mais um livro do poeta cabo-verdiano Filinto Elísio (Filinto Elísio Correia da Silva), “Li Cores & Ad Vinhos”. Ibn Mucana, publicando três dos poemas deste livro, dá aos seus leitores um “cheirinho” da boa poética nele constante.  


MADRIGAL EM SONCENT

 Os galos que cantam na baía adormecida
\E as peixeiras aos pregões “cavala fresca”,
Levam a mesma métrica e a mesma clave,
Não se sabe se do dia ou da pura melodia.

Mas o que se conhece, não da madrugada,
Posto que arreda o amanhecer, é o solfejo
De haver, entre lua e sol, tal pejo de nada,
Como fosse nada a chave da idade do ser…

O resto, sendo sobras da cidade, a desdita
Dos burocratas e comandita, o estremecer
Das luzes e prenhe barro, esturro de tudo….

Esporo da rosa ou na ninfa, pólen ou boca,
Esta hora louca de também só entardecer,
Quando e contudo, a vida se revela pouca…


RADE

Plúmbeo céu
Cinza e cor de lago
Dos teus olhos…

Espelho que reflecte
Sendo a luz negra das horas
As brancas sombras dos lugares…

Cisnes e gansos
O vaivém dos barcos nas hordas
Estátua magenta – sejas tu…


AD VINHOS

andei por califórnias ródanos douros
sonhei ânforas do antanho
deusas eólicas taças de âmbar
poetei absintos versejei labirintos
naveguei pessoas & nerudas
tive orgasmos a imaginar borges
acordei diante de brancos secos
amei com os tintos  maduros
encorpados lambruscos
alentejos chãs
ad aeternum
ou aqui
agora…

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