sábado, 19 de novembro de 2022

[0774] "Tríptico da Morte", de Luís Palma Gomes

Estes três poemas foram inicialmente publicados no blogue "Amaité, Poesia e Cia" (ver AQUI).


ANTECIPAÇÃO

O tiro já partiu.


De nada vale o gesto brusco,

a finta, o disfarce desmazelado

que há muito ensaias.


O sol desce nas tuas costas

e nem isso notas, porque todos os dias

parece-te quente o pão entre os dentes

e, além disso, há sempre alguém que te cumprimenta

de forma ainda convincente,


O tiro partiu desde que nasceste,

porque o fim e o início são a mesma coisa,

se os observas à distância de um livro muito antigo.


Ali, onde a terra se levanta levemente,

e as ervas pousaram depois inconscientes,

podes já tu estar antes mesmo do tiro chegar,

porque é no som da pólvora,

ou mais intimamente no estalido do gatilho,

que passaste realmente a acreditar.




A ESPADA

«Depois falamos», disse-me ela,

deixando-me na mão o aço em brasa da espada.

«Quando arrefecer...», profetizou ainda sem esclarecer.

Percebi que iria voltar um dia.

O restante especulei: inventei sombras, reverberações

nas paredes da casa.

Perscrutei o destino nos olhos do gato,

que me eram de coruja.

E o outono acabou por chegar,

quando a espada arrefeceu,

fazendo-se então tíbia sensação,

canto que embala e prepara.

Ouvi o eco que já não parecia sê-lo.

Se fosse, era apenas o eco do eco do eco.

A boca a mexer-se no espelho, sozinha,

sem pensamento,

instinto animal que não entende, mas sente.

«Não tenho medo, tenho pena»,

disse-mo meu pai.

Compreendi tão profundamente,

como se compreende o esquecimento,

um totem magnífico

cuja areia vai cobrindo sem ritual, nem plano.


A luz era agora amarela, daquela cor que irradiam

as páginas das revistas antigas.

A ideia de um osso ganhava vida,

os pássaros partiam para sul.

Se voltaria a vê-los, ou não, só no inverno saberia.



A GOTA-CADÁVER

A gota espreita,

reflete o som e a brisa que a agita,

alucinação simples que a rodeia.


A medo incha, inflama-se,

ajusta-se à ponta da torneira,

saco de moléculas,

pequeno universo em expansão.


Por um instante hesita.

Parece repudiar a sina,

insistir uma vez mais

no incrível regresso à nascente.


Quando se lembra que não se lembra,

cai exata, entregando-se  fóssil,

emancipada ao prazer curto da viagem,

ao destino-cadáver de um oceano maior.


quarta-feira, 9 de novembro de 2022

[0773] Poeta Fernando Fitas vence mais um prémio de poesia. Cerimónia de entrega do prémio, na Biblioteca Municipal Bento de Jesus Caraça, Moita

O auditório da Biblioteca Municipal Bento de Jesus Caraça, na Moita, acolheu, no passado sábado, 22 de Outubro, a cerimónia de entrega do Prémio de Poesia Joaquim Pessoa, promovido pela Câmara Municipal da Moita e pela Editora Edições Esgotadas atribuído, este ano, ao escritor Fernando Fitas com a obra “Um corpo sob o pó”.