terça-feira, 23 de julho de 2019

[0681] NUNO REBOCHO, POEMAS DE TERÇA-FEIRA (31) Nuno Rebocho, o amor cabo-verdiano


Do seu pequeno-grande livro "Rotxa scribida", ed. Rosa de Porcelana, 2019, o poema 6.º.

6.

de uma ilha a outra: as ilhas todas
nos mares que criamos
dentro do sentimento. mãos insulares
buscam istmos para o continente aquele
que os olhos solfejam
nas escarpas procuradas.
bocas insulares escancaradas de vontades
mesmo que agarradas
de uma ilha a outra. neguem os mares
a liberdade da viagem
que o pensamento passa e o vento passa
sobre as ilhas. sobre as ausências
nem a chuva arrefece a coragem.
mas ficamos nas ilhas. e nas ilhas ficamos
criando os mares. navegamos todavia.

[0680]


segunda-feira, 22 de julho de 2019

[0679] Pepita Tristão publica pela primeira vez em Ibn Mucana, ela que já é bem nossa conhecida no blogue "Contos da Tinta Permanente"


CINZAS
                    (À minha mãe)


Foste frágil avezinha, saltitante
entre pétalas vermelhas de negra bomba,
caçula indefesa na selva inquietante
em tempos de fome, jogando à comba

Desabrochastes entre medos e alegrias,
no conforto da fé pueril e da mantilha
entre as gardénias de Machin e outras fantasias
dedilhaste paixões na tua guitarrilha

Moçoila atrevida – olé touro! - salerosa,
batom de sangue, rodopiando pela vida
rosa nos cabelos, morena misteriosa
desconcertante, recatada, explosiva.

Um dia encontraste-o. Deslumbramento!
Seguiste-o, cega, nos enleios do amor
apenas vendo rosas no caminho lento
pairando, sem sentir dos espinhos a dor

Despertaste do sonho num lar estranho
intrusa, estrangeira, incompreendida
lutaste, apagando as marcas do antanho
enquanto florescia em ti nova vida.

Já mãe, viveste alegrias e tristezas
na vida que pouco sorriu ao teu sonhar
Com as asas cortadas e poucas certezas
a esperança feneceu no teu olhar

Soltas amarras. Surge a Fénix ávida de vida.
Livre, perdeste o ter, ganhaste o Ser.
És mulher, mãe, companheira, amiga
e se soubesses lutar, poderias renascer.

Chegam os netos, promessas, esperança,
deleites renovados, sonhos e trabalhos.
Inexorável, castigador, o tempo avança
o corpo sente quando chega o orvalho.

A vida declina – onde estão as andorinhas?
Escoa-se o tempo. Azafamam-se as parcas.
Começaste a morrer no tempo das vinhas,
não quero que sofras não quero que partas.

A infame, chegou de mansinho... e te levou,
arrancando-te de meus braços, impotentes
e sem piedade o teu ser se transformou
nestas cinzas ainda quentes

7 de Março 2017

"Mother and Child", Mary Cassatt, c. 1889, CMA, EUA

quarta-feira, 17 de julho de 2019

[0678] Genito Yokoluvango, a poesia dos anos de brasa


De seu nome André Eugénio Gervásio das Saudades, nasceu em 1956 em Sá da Bandeira, actual cidade do Lubango. Ingressou no quadro diplomático e exerceu funções diplomáticas nas Repúblicas de São Tomé, Côte d’Ivoire e China.


KOHALÊ 


Sou do tempo,
do parto da Assembleia do Povo
do ventre do Cine Restaurador

Sou do tempo,
pensador despensado
irritando Mwanapôs
em cuecas
na  rotunda do Aeroporto

Sou do tempo,
fino reco-reco
bué peixe-espada
ferra do no arroz d’água com sal,
montanha

Sou do tempo,
arrancador tremia as lâmpadas
todos dançavam
no dancing do Valito.
Cassete Maxwell
botão? gira na lapiseira!

Sou do tempo,
Camarada, Fantoche
também Lacaios do Imperialismo

Sou do tempo,
guerra-gelada
M’bumbu contra preto
Negro contra black
por trás,
gargalhadas White!

Sou do tempo,
milionário tinha cem dólares,
sentava no Tribunal
Revolucionário

Sou do tempo,
Kwanza Novo
ficava velho
no BFA do garrafão

Sou do tempo,
Percy Sledge
morava na Águia d’Ouro
machimbombo tinha paragem
do fiscal com relógio

Sou do tempo,
Camões de doji-quinhentos
engravidava mãe
da Latona
sem apelido,
só nome de santa

Sou do tempo,
no Parlamento
Al Capone Yetu  Kazumbí
dois incisivos de elefante
no kafôcolo,
saiu.
Todos, ninguém viu!

Sou do tempo,
Tabuada ficava na cabeça
álcool ficava na garrafa,
agora !?

Sou do tempo,
Amor de sentimento
não se fazia
hoje, até dá azia.

Sou do tempo,
cortejo funeral
todo defunto era General.

Sou do tempo,
Provérbio 22.1

terça-feira, 16 de julho de 2019

[0677] NUNO REBOCHO, POEMAS DE TERÇA-FEIRA (30) Nuno Rebocho, a constante viagem

 

Porque é terça-feira, recordamos um poema de Nuno Rebocho, extraído de “Canções Peripatéticas”.


NOITES ANDALUZAS

1. 
vai a morte calçada de trinta pés
e cerzida no choro das viúvas -
ela vai a molhar-se mais de chuvas
que de cruzes ou de incensos ou de fés.

como um clamor sobre um soluço de clarinetes
a morte destapa-se do suor dos cansaços
com que a transporta a raiva de trinta braços
com que a desejam na batalha mil ginetes.

vai a morte. lá vai lenta e roxa
ondulada e lenta quase coxa.
atrás vem a voz e vem a virgem
e um coro branco: a cor da origem.

passo a passo o lamento alcança
a semente que desperta em regaço verde:
é o senhor da morte que caminha e balança
sobre pés sem limites a própria sede.


2.
abandonaste a morte entre as oliveiras
onde os grãos da primavera humedeciam:
as culpas zelavam e pariam solteiras
com as dores amarelas que os olhos escureciam.

em cada etapa a vida era vinho novo,
goles de alegria que as gargantas assolavam.
na vida todas as mortes todas se apagavam
e trôpegas de tão fartas envileciam.

e as bocas? as brasas cantavam e despertavam
em ocos murmúrios de grossos rios
que nas ruas com traves de silêncios se barricavam
dos assaltos das paixões nos olhos claros;

morria então a morte em tanto vício e canto
que o baile adormecia. que já era vida a morte
e era sal o sol com rouco espanto
da noite que no dia mergulhava e esmorecia


3.
(o jardim dos perfumes)

atiro o problema para trás das costas
mas as macieiras descobrem-me: sou a sombra
e o murmúrio. e se calço as alpergatas do silêncio
sobra-me o espanto. por então falo
das coisas corriqueiras que me acontecem
- ou o tépido beijo da morte
a limpidez das madrugadas sóbrias
os olhos dos planetas que escurecem
ou a morte súbita dos rios amarelos.


4.
corria o cometa na noite de andaluzia e era febre
enquanto o tempo se consumia no sofrimento da memória.
a noite e o plaino era a parede de fechar o mundo
à angústia do corpo vivido. o caminho encurta
quando agarramos a felicidade com desconfiança
(e devemos confiar ou morder a língua?).
o cometa era indiferente à noite de andaluzia
e eu queria falar-lhe dos campos secos
do sangue das batalhas de outrora
do corpo desgastado pelas palavras da ausência
mas o cometa era luz e corria - corria para lá dos olhos
na noite de andaluzia.
desde então eu quis casar
com a filha do rei
e desde então fiquei à espera
que entrasses na minha casa
e me dissesses a palavra mágica
para que a minha alma fosse salva.
desde então eu estou à espera
que me digas aquela palavra mágica.

segunda-feira, 15 de julho de 2019

[0676] Mais uma visita de Nicolau Saião, mais um poema seu...


LEONOR FINI

Qual é a voz que me canta
que me chama e desafia
a ir pela estrada onde o sofrimento do mundo
está guardado   como para uma boda?

O doido penar da minha alegria
na sala dos sem coração
grita para todos os pássaros que me conheceram

Lâmpada, lâmpada de todas as desgraças
eu sei que o teu semblante me aterrorizou
e os lamentos estão neste lugar
como uma bela mulher de areia e neve

E eu adoro-te todavia
pois tu és como eu sou
como eu sempre fui
uma criminosa
a criminosa das horas flamejantes
doridas e sem medo

A tua mão tocou-me
bailando sobre tudo o que era nosso
a tua mão que se aproxima dos seios
das estátuas que crescem nos soalhos

E entre nós e o tempo das suas mágoas
sòmente está aquilo que não fomos.

O teu corpo, desfeito, recusa-se
o teu corpo, sem o ser, é a luz
mas o terror destrói a luz, na luz apodrece o riso
tudo o que existente foi para além do sacrifício

Os golpes do fogo tiveram a coragem de soar
uns contra os outros
anilhas de infinita ternura
e eu sei que o jogo não mais findará

A claridade da rosa ainda está escondida
nas formas das palavras ao acaso perdidas.

                                                        in “Fábrica Nocturna”

Pintura de Nicolau Saião

[0675] Daizy Zamora, guerrilheira e ministra


Nascida em 1950 em Manágua (Nicarágua), poeta, foi vice-ministra da Cultura do seu país. Ex-guerrilheira e professora de jornalismo, foi responsável na clandestinidade da Rádio Sandina. Vive actualmente nos Estados Unidos.


CELEBRACIÓN 39 ANIVERSARIO

No hay nada que celebrar.
El dictador y su mujer lo saben,
pero han llegado a la plaza.
Suben a la tarima enflorada.
Debajo hay una montaña de cadáveres.
Debajo hay heridos y lisiados. 
Debajo hay llanto.
Saben que no hay nada que celebrar
más que la Muerte,
que infiltra su hedor inconfundible
entre las flores.


MENSAJE URGENTE A MI MADRE

Fuimos educadas para la perfección:
para que nada fallara y se cumpliera
nuestra suerte de princesa-de-cuentos
infantiles.
¡Cómo nos esforzamos, ansiosas por demostrar
que eran ciertas las esperanzas tanto tiempo
atesoradas!
Pero envejecieron los vestidos de novia
y nuestros corazones, exhaustos,
últimos sobrevivientes de la contienda.
Hemos tirado al fondo de vetustos armarios
velos amarrillentos, azahares marchitos
ya nunca más seremos sumisas ni perfectas.
Perdón, madre, por las impertinencias
de gallinas viejas y copetudas
que sólo saben cacarearte bellezas
de hijas dóciles y anodinas.
Perdón, por no habernos quedado
donde nos obligaban la tradición
y el buen gusto.
Por atrevernos a ser nosotras mismas
al precio de destrozar
todos tus sueños.


VUELVO A SER YO MISMA

Cuando entro con mis hijos a su casa, vuelvo
a ser yo misma.
Desde su mecedora ella
nos siente llegar y alza la cabeza.
La conversación no es como antes.
Ella está a punto de irse.
Pero llego a esconder mi cabeza
en su regazo, a sentarme a sus pies. Y ella me contempla
desde mi paraíso perdido
donde mi rostro era otro, que sólo ella conoce.
Rostro por instantes recuperado
cada vez más débilmente
en su iris celeste desvaído
y en sus pupilas que lo guardan ciegamente.

sexta-feira, 12 de julho de 2019

[0674] John Rivera Strédel, a poesia venezuelana


Poeta venezuelano nascido em Caracas em 1962. Também terapeuta psicossocial e psicólogo. Prémio Nacional Universitário de Literatura Alfredo Armas Alfonzo de 2017.


EL LUCHADOR

Qué tan bueno sería dejar de golpear
abriendo los puños
para construir una estancia segura
lejos de la noche y la muerte.
Quizás el hombre aprendería a amar
si sus manos con calma
tocaran el cuerpo de la mujer
como un vidrio que lo refleja a sí mismo
y teme quebrarse.
Un árbol es un hueso
que dice la verdad.
Que la vida tiene que estar
en el centro del tronco
y terminar en las ramas.
Y aunque éste ofrezca
su savia al mundo
debe estar ahí
permanente al viento
y a los helechos.


SEM TITULO 

Hoy no volteas al jardín
para ver la delicadeza de mi tallo.
Llenos de miseria
con un hueco en los estómagos
esperamos días mejores
No importa
si se come bien o  no
sino ayunar juntos.
*
No fui hecho
del  mismo zumo que tú.
No puedo vivir en la concha
tengo que estar afuera
conocer el sudor del hombre.
Que la unión a otro cuerpo
produzca el choque de nuevos olores.
*

[0673] "Cintilações", revista de poesia e ensaio

É apresentada na Livraria Ferin (Rua Nova do Almada, 70, Lisboa), no dia 13 de Julho, pelas 16h00, "Cintilações: Revista de Poesia, Ensaio e Crítica", n.º 3, de 2019, pelo Prof. Doutor Ernesto Rodrigues. Em baixo, cartaz da recente apresentação da revista em Braga.



quinta-feira, 11 de julho de 2019

[0672] Ermi Panzo, a outra voz de Angola


Angolano-brasileiro é polivalente: escritor, poeta, declamador, coreógrafo, bailarino e performer. Em Angola, coordenou o projecto Carta.


FUGIR POR ENQUANTO 

mãe, treina-me
quero ser craque
fugir de Cabinda ao Cunene
sem que uma bala me embarque
para que eu não vá tão cedo
ao encontro da avó Yamba
mamá Lemba
tio Birimba
tia Kenguita
avô Ngombo
primo Jobito
vizinha Mané
tio Macadão
mãe, treina-me
tenho pressa do meu corpo vivo


SEDUÇÃO

Teus olhos batendo palmas
fornalham magia

Sim!
Até que me domina
Me doutrina
Me dislexia
Me penicilina,
Me poesia


A PEDAGOGIA DO TEU SUMIÇO

Invergou-me ao avesso
Agora
Desaparecido estou
Inclusive
Desalfabetizou-me jà
De trinta e dois sorrisos
… Eis que temo retroceder
À minha analfabetisse original

quarta-feira, 10 de julho de 2019

[0671] Federico, sempre!...


ESTE ES EL PRÓLOGO


Dejaría en este libro
toda mi alma.
Este libro que ha visto
conmigo los paisajes
y vivido horas santas.

¡Qué pena de los libros
que nos llenan las manos
de rosas y de estrellas
y lentamente pasan!

¡Qué tristeza tan honda
es mirar los retablos
de dolores y penas
que un corazón levanta!

Ver pasar los espectros
de vidas que se borran,
ver al hombre desnudo
en Pegaso sin alas,

ver la vida y la muerte,
la síntesis del mundo,
que en espacios profundos
se miran y se abrazan.

Un libro de poesías
es el otoño muerto:
los versos son las hojas
negras en tierras blancas,

y la voz que los lee
es el soplo del viento
que les hunde en los pechos,
– entrañables distancias –.

El poeta es un árbol
con frutos de tristeza
y con hojas marchitas
de llorar lo que ama.

El poeta es el médium
de la Naturaleza
que explica su grandeza
por medio de palabras.

El poeta comprende
todo lo incomprensible,
y a cosas que se odian,
él, amigas las llama.

Sabe que los senderos
son todos imposibles,
y por eso de noche
va por ellos en calma.

En los libros de versos,
entre rosas de sangre,
van pasando las tristes
y eternas caravanas

que hicieron al poeta
cuando llora en las tardes,
rodeado y ceñido
por sus propios fantasmas.

Poesía es amargura,
miel celeste que mana
de un panal invisible
que fabrican las almas.

Poesía es lo imposible
hecho posible. Arpa
que tiene en vez de cuerdas
corazones y llamas.

Poesía es la vida
que cruzamos con ansia
esperando al que lleva
sin rumbo nuestra barca.

Libros dulces de versos
son los astros que pasan
por el silencio mudo
al reino de la Nada,
escribiendo en el cielo
sus estrofas de plata.

¡Oh, qué penas tan hondas
y nunca remediadas,
las voces dolorosas
que los poetas cantan!

Dejaría en el libro
este toda mi alma…

[0670]


terça-feira, 9 de julho de 2019

[0669] NUNO REBOCHO, POEMAS DE TERÇA-FEIRA (29) Nuno Rebocho, no seu mais recente livro, "Rotxa Scribida"


POEMA 10

o sardão acaricia a pedra: com a pele do silêncio
indaga o sol até à memória. nem lhe sobra
musgo ou arrependimento: esgueira-se
para a imodéstia da poeira. o sardão é sábio
quando troca o rabo pela coragem do dia.
sábio é quem tem a razão do sacrifício
e medonha mais que a acácia a sua sombra.
aprendo no jeito do sardão a necessária
esquiva e desafio o astro para a contabilidade
dos dias e dos silêncios. vou envilecendo:
no resguardo do contrário me defendo.

sexta-feira, 5 de julho de 2019

[0667] De Rafael Alberti, o poema da menina rosa


LA NIÑA ROSA SENTADA

La niña rosa, sentada.
Sobre su falda,
como una flor,
abierto, un atlas.
¡Cómo la miraba yo
viajar, desde mi balcón!
Su dedo, blanco velero,
desde las islas Canarias
iba a morir al mar Negro.
¡Cómo la miraba yo
morir, desde mi balcón!.
La niña, rosa sentada.
Sobre su falda,
como una flor,
cerrado, un atlas.
Por el mar de la tarde
van las nubes llorando
rojas islas de sangre.

quinta-feira, 4 de julho de 2019

[0666] Poemas de José Falconi



José Amador Falconi nasceu em Tuxtla Gutiérrez, Chiapas, México, em 1953. Poeta, narrador y periodista. Foi Prémio Iberoamericano de Poesía Carlos Pellicer em 1978 e Prémio Estatal de Poesía em 1979


EL GRAN TONTO
               A don Ramón Martínez Ocaranza. En su estilo y una sola coma

A plena luz
Caen flores que vomita un perro muerto
Por el silencio y su pupila ciega
Por el absurdo tránsito del sueño
Un violín hace ladrar sus cascabeles
En humo y aceites malditos
Y el Gran Tonto
Tendido sobre la gangrena
De los pastos
Calienta el mitín de sus huesos
Bloque de hielo en llamarada
Él viene del sueño
Y como aquello que se nombra y no se nombra
Me dicta estas palabras, oscuras brasas
En sus malabarismos:
“De erizados cristales
Traigo herido mi cuerpo
Por la sombra eleva su canto”


NO ESTÁ ILUMINADA POR EL SOL NI LA LUNA, NI POR LA ELECTRICIDAD

Antes de evaporarme,
ceniza acumulada en la demencia,
antes de convertirme en granizo,
en sombra amarga de un jardín,
debo surcar el espacio sideral,
recorrer su cubierta
y penetrarla hasta el abrevadero
que apagará mi sed.
Ya me crece por dentro una yerba
inmaterial,
se detiene en mis huesos
y no está iluminada
por el Sol ni la Luna,
ni por la electricidad.
¡Ya del todo mi luz se me nublaba!


SONETO

Las noches del amor en sus rodillas
guarda la niña olor de yerbabuena,
sus breves senos en la noche buena
edulcoradas mentas amarillas.

Con sus delirios y sus ironías,
sin vencedor porque los dos perdemos
en un juego amoroso en que sabemos
el dulce gusto de las sodomías.

Y la noche nos tiene desvelados:
te vienes sin piedad sobre mi boca,
en mis nerviosos labios acallados.

Y la sombra al pasar nos repetía:
«En el amor hay una loba loca
que se asombra y padece en alegría».

quarta-feira, 3 de julho de 2019

[0665] O regresso de José Pascoal ao Ibn Mucana


José Pascoal regressa a Ibn Mucana que está sempre pronta a acolhê-lo.


DÉDALO

A noite traz os barcos,
As últimas notícias,
Os vagabundos.

Descemos
Ao subsolo secreto
E desmemorizado.

Olhamos para dentro
Do labirinto em que perdemos
Os nossos passos inseguros.


PÁGINA EM BRANCO

O murmúrio dos muros,
A hera dos sentidos,
Quando te amo nua
Em noite branca e pura.

O lume das palavras
No limiar dos lábios
Ilumina os sinais
Do nosso desvario.

Nesta página em branco,
Neste passo cercado
Por sedento silêncio
Descobrimos o mundo.


LÂMPADA ACESA

Que faz iluminar o medo
Das palavras? Que silêncio
Cala a boca da memória?
Estamos sós neste mundo.
Estamos sós na voragem
E na vertigem dos dias.
Estamos perto de todas
As partidas. Conhecemos
Só a sílaba de luz
Que ilumina este desejo
De falecer sem feridas,
De partir sem despedidas.

[0664] Novo livro de José Luís Hopffer Almada sai em Lisboa

CONVITE

No âmbito da realização da sua Semana de Arte Integrada, a Associação Caboverdeana de Lisboa (ACV) e a Sociedade Cabo-Verdiana de Autores (SOCA) têm a honra e o prazer de o (a) convidar a participar na apresentação pública do livro GERMINAÇÕES E OUTRAS RESTITUIÇÕES DE MARÇO, de JOSÉ LUÍS HOPFFER C. ALMADA (SOCA-Edições), a ter lugar a partir das 18h30 do próximo dia 4 de Julho (quinta-feira), nas instalações da ACV, sitas na Rua Duque de Palmela, nº 2, oitavo andar, ao Marquês de Pombal.

A apresentação do livro estará a cargo do escritor Adolfo Maria e dos Doutores Hans-Peter (Lonha) Heilmair, Anabela Almeida e Maria Raquel Álvares e será abrilhantada com uma sessão musical com George Tavares, Txunin de Fusão, Carla Correia, Heloísa Monteiro e Tonecas Lima e declamação de poesia baseada na obra a ser apresentada.  

No final, será servido um beberete.

Saudações cordiais

terça-feira, 2 de julho de 2019

[0663] Novo livro de Viale Moutinho


Será apresentado, a 4 de Julho pelas 17h30, no Espaço Tertúlia da Feira do Livro de Braga (Largo S João do Souto) o livro de José Viale Moutinho “Inóspita Paisagem” (Editora Labirinto).

[0662] NUNO REBOCHO, POEMAS DE TERÇA-FEIRA (28) Nuno Rebocho, o cabo-verdiano adoptivo


Do seu último livro, “Rotxa Scribida”, fica aqui um dos poemas

AS PALAVRAS SÃO A MEDIDA DO TEMPO

quando buzinam os táxis da tristeza
digo-te irmã rabidante
que é duro o pão
da solitude. falo-te das coisas
que o horizonte esconde
e o sol oculta: o sal da insularidade cresta
a pele e o corpo adoça-se na praia
da malícia; o verde queima o interior
na aurora da chuva
e a clandestinidade dos sonhos
rega a liberdade.

eu sei que as palavras morrem camaradas.

as lápides da memória adejam
como gaivotas e são as cicatrizes dos dias.
irmã rabidante
o sangue da internet percorre as artérias
deste silêncio desde o pulmão da saudade
das coisas que nunca acontecem
enquanto o bolor vigia
a doença em cada ilha e tu adormeces
como bolacha de s. vicente
no balcão da padaria:
o mercado não vende a terra longe.

eu sei que as palavras vivem companheiras.

então o som da mandioca desperta-me para ti
irmã rabidante
e eu percebo que é mais amargo o teu pão
do que a minha tristeza - o sabor
da camoca não apaga os vazios que separam
as dores diferentes: eu sofro ausências
e tu quebras os dentes na pedra dos dias.
tu contabilizas o porco
e eu filtro a paisagem
com o minucioso cuidado do sentimento
entre um golo de uísque e as melancolias.

eu sei que as palavras são a medida do tempo

segunda-feira, 1 de julho de 2019

[0661] Uma lengalenga bibliotecária, por Joaquim Saial


LENGALENGA DA BIBLIOTECA PARA GENTE DE BECA

A biblioteca
tem estantes de teca
com livros e revistas
que são ideais
para gente de beca.

Pertence ao Dr. Zeca
que vive na Charneca
e cuja esposa,
senhora sueca,
tem ar de boneca.

Chama-se Rebecca
e é ela quem limpa
o pó à biblioteca.


[0660] Nicolau Saião oferece-nos uma balada de Portalegre


ESTAÇÃO

De Portalegre? Sei onde fica...
Fui lá um dia
co'a tia Anica!
Tinha lá primos
e uma cunhada.
Conheço bem.
Vale a jornada...!

Tem coisas belas
simples, singelas
de nobre terra:
a volta à Serra,
a fonte nova
e uma grande árvore
cheia de brio
quer esteja quente
ou faça frio
lá no Rossio

Tem a Corredoura
mais o Bonfim
(e alguns fulanos
assim-assim...)

E tem o Corro
e a grande Sé
que é imponente
p'ra toda a gente
quer tenha ou não
(queira-o ou não)
a sua fé.
E tem comércio
bem aviado
mais a indústria
de fiação
com bom mercado
p'ra dar o pão
afiambrado!

Vale bem a pena
viver-se lá:
tem gente grada
bondosa, amena
(calva ou barbada)
como não há…
         
        ***

Olhe o comboio que vem chegando!
Então adeus. Tive prazer
em conversar. Céus, que está frio
neste lugar!
                                                 
Sim. Portalegre... Sei onde fica!
Fui lá um dia... Co'a Tia Anica.

Tem a Corredoura
mais o Bonfim
(e alguns malandros
assim-assim...).