quarta-feira, 22 de junho de 2022

[0769] Lançamento de "Fronteira", de Luís Palma Gomes

"FRONTEIRA", DE LUÍS PALMA GOMES, LANÇADO AO AR LIVRE, NO PULMÃO DE LISBOA

Parecia que ia chover e não choveu. Parecia que ia aparecer pouca gente e apareceu a suficiente para um final feliz. Foram como sempre sábias as palavras do Alexandre Andrade, competente a recitação do poema do Porfírio Lopes, belíssima a capa da Marina Palácio, inovador o design e a paginação da Beatriz Cazenave. Foram trinta os amigos e leitores que puderam aparecer, naquela tarde de sábado (18/06/2022) no Parque de Merendas Keil do Amaral no Monsanto.

Durante a apresentação, um rapaz de doze anos do picnic ao lado, aproximou-se para ouvir as intervenções. No final,  o autor procurou-o para lhe oferecer um livro. Passado algum tempo o rapaz — deitado sobre um banco de jardim, um pouco afastado da sua festa — lia atentamente o livro. Só por este acontecimento valeu a pena lançar o "Fronteira".

"Ibn Mucana", infelizmente não teve possibilidade de estar presente, mas dá aqui um leve ar do que sucedeu.

Luís Palma Gomes e escritor Alexandre Andrade

Luís Palma Gomes e escritor Alexandre Andrade

Luís Palma Gomes e encenador Porfírio Lopes

Marina Palácio, ilustradora da capa do livro (à direita)

sábado, 11 de junho de 2022

[0768] Um profeta, o deserto e uma orquestra de estorninhos, por Luís Palma Gomes




O PROFETA IMPOSSÍVEL


Vais até à margem que é o centro

para que as tuas mãos toquem coisas intocáveis.

Tentas convencer-te de que regressas com elas.

Se elas vêm ou não, nunca sabes.

Há realmente indícios de uma presença estrangeira

em alguns gestos que fazes sem querer,

em palavras que te escapam

como os pardais que guardamos crédulos em gaiolas.


Se, porém, quando voltas ao deserto

tudo está por lá outra vez,

é certo que nunca levaste nada para casa.


E se não trazes contigo as profecias,

então para que te servem os jejuns de poeira e gafanhotos?

Ou mesmo as sandálias, senão como lugar-comum

de uma adiada humildade?


Apenas quando olhas o bando de estorninhos

negros e empoleirados como uma orquestra,

compreendes que a música dos pássaros

não pode ser tocada nos coretos da cidade.