terça-feira, 10 de novembro de 2020

[0719] Luís Palma Gomes, uma estreia no Ibn Mucana que muito nos honra


PÁSCOA PREMATURA


Também

não vos quero antecipar

o prazer de ouvir o riso dos pássaros

quando entram nas novas folhagens.


Essas palavras

poderiam por acaso levar-vos a renascer

fora do tempo

sem que tenhais

ainda dado os necessários passos da paixão.




domingo, 8 de novembro de 2020

[0718] Dennis Ávila Vargas, uma voz da América latina

Dennis Ávila Vargas

Nasceu em Tegucigalpa, Honduras, em 1981. Desde 2017 possui também a nacionalidade costa-riquense, do país onde vive. Uma seleção de seus primeiros livros de poesia está reunida na "Antologia de Geometria Elementar" (Casa de Poesía, Costa Rica, 2014). Em 2016, as Ediciones Perro Azul (Costa Rica) publicaram "La infancia", republicado na Editorial La Chifurnia (El Salvador), nas Ediciones Trábalis (Porto Rico) e em Amargord (Espanha). Em 2017, Amargord publicou "American Clothes", republicado na Puertabierta Editores (México), e traduzido para o árabe do poeta Fakhry Ratrout (Al’aan Ediciones, Jordan, 2019). No ano de 2019, Amargord publicou "Historia de la sed". O seu livro "Os excessos millennials" foi o vencedor do Prémio Internacional de Poesia "Pilar Fernández Labrador" (2020), com sede em Salamanca, Espanha. 

O blogue Ibn Mucana agradece ao poeta peruano Alfredo Pérez Alencart e professor de Direito do Trabalho na Universidade de Salamanca o simpático envio destes materiais.



VENTO


Pondera lento um caracol no meio da selva,

dá refúgio ao motor do beija-flor

e às pedras que principiam o fogo.

Rebeldia de neurónio, cabelos soltos,

inércia de redemoinho;

vigília e espinha dorsal.

Sua força é todos os lugares,

realiza análises, amola nomes,

escreve escamas pela superfície do lago.

Qualquer forma de vida é irrepetível,

e, soprando-se pelos terrenos baldios,

conquista rios que nascem duas vezes.

Somos uma tela sem esquinas,

carregamos nos ombros os olhares do vento.



POUSOS FORÇADOS


Dos aviões

dá para ver os rios que morreram antes de nascer.

Dos aviões,

palavras como estalactites,

incapazes de finalizar uma oração

neste mundo povoado de cavernas.

Dos aviões,

um estranho paralelo:

ver o mar em sua amplidão e não poder escutá-lo.

Dos aviões, um mayday

na altura dos fins

que justificam os medos.

Até no ar, a desigualdade:

uma cortina que separa

a primeira classe do resto

até o último dos dias.